quarta-feira, 18 de maio de 2011

Rochas revelam glaciação no Nordeste há 300 milhões de anos

(Agência USP / UOL) Geleiras cobriram o território do Nordeste brasileiro há cerca de 300 milhões de anos, revela pesquisa do Instituto de Geociências (IGc) da USP. O estudo do professor Antônio Carlos Rocha Campos identificou rochas formadas pelo acúmulo de detritos transportados pelo gelo na Bahia, Alagoas e Sergipe, além de áreas no norte de Minas Gerais, em Goiás e no Tocantins. Também foram encontradas marcas de erosão (estrias) produzidas pela passagem de geleiras sobre substrato rochoso mais antigo e sulcos formados pelo deslocamento de icebergs arrastando-se sobre fundos de lagos e mares.

e acordo com o professor, o Brasil teria passado por seis idades glaciais, algumas delas com duração de dezenas de milhões de anos. “A glaciação estudada aconteceu quando o território brasileiro fazia parte do supercontinente de Gondwana, que reunia América do Sul, África, as penínsulas Arábica e da Índia, Austrália, Nova Zelândia e Antártida”, diz. “Conforme a massa de terra deslocou-se na direção do Pólo Sul geográfico, nas suas partes mais altas começou a haver precipitação de neve, que se acumulou, transformando-se em gelo que cobriu toda a região, movimentando-se para as regiões mais baixas”.

Os primeiros indícios dessa glaciação foram encontrados na Bacia do Paraná, em 1888, sob a forma de rochas típicas do ambiente glacial. “Quando avançam, as geleiras arranham (erodem) o substrato como se fossem grandes lixadeiras, englobando detritos rochosos e empurrando-os. Os detritos vão se acumular mais adiante de forma desorganizada, sem estratificação, misturando diversos tipos de rocha”, explica Rocha Campos.

A glaciação de Gondwana teria durado cerca de 30 milhões de anos. “Imaginava-se que ela tivesse alcançado apenas o Sul, Sudeste e Centro Oeste do Brasil, mas surgiram referências a rochas glaciais no norte de Minas Gerais, Goiás, Tocantins, sul da Bahia, Alagoas e Sergipe, que foram então estudadas”. Em todos esses locais foram encontradas rochas formadas de material transportado e depositado pela geleira (tilitos).

Icebergs
Na região de Igreja Nova, em Alagoas, foram encontradas numerosas estruturas erosivas glaciais em rochas mais antigas, sob a forma de estrias ou ranhuras, ao lado de calhas longas (20 a 30 metros), mas formadas pelo arrasto de icebergs sobre sedimento de fundo marinho. “Na medida em que os blocos de gelo se desprenderam das geleiras, eles passaram a flutuar até tocar o fundo deixando aí o seu rastro”.

Segundo Rocha Campos, o estudo dos registros glaciais rochosos servem para entender o funcionamento das glaciações. “Por exemplo, se as rochas glaciais estão cobertas por outras formadas em clima mais quente, mas separadas por rochas intermediárias, são um indício de que o degelo pode ter sido mais gradual”, conta. “Pelas evidências encontradas em rochas e nos testemunhos de gelo da Antártida, a última glaciação na Terra teria sido muito oscilante, envolvendo várias fases de avanço e recuo das geleiras”.

A pesquisa teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Os resultados serão apresentados em artigo científico, em fase de elaboração, em publicação a ser definida. Novos estudos terão como foco depósitos glaciais terciários da Antártida de cerca de 35 milhões de anos, entre os períodos Eoceno e Oligoceno, quando o manto de gelo antártico começou a se formar.

“As glaciações são processos cíclicos, com começo, meio e fim, e cada uma delas produz depósitos sedimentares contendo rochas diferentes, vindos de regiões extensas, e até longínquas, às vezes de grande espessura, como é o caso da Bacia do Paraná”, ressalta o professor, que realiza pesquisas sobre rochas glaciais desde 1961. “Por meio desses indícios, pode-se verificar se a glaciação foi de curta duração ou se estendeu por um maior intervalo de tempo.”

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