quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Agricultura aumenta oscilação nos níveis de CO2 na atmosfera

“Revolução Verde” elevou amplitude das diferenças nas concentrações do gás no ar do Hemisfério Norte registradas a cada estação do ano


(O Globo) O aumento da concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera pela ação humana, como a queima de combustíveis fósseis, é apontado como um dos principais causadores do aquecimento global. Mas os níveis deste gás no ar não são constantes, variando sazonalmente, em especial nas regiões temperadas do Hemisfério Norte. É o chamado ciclo do carbono, que tem entre seus agentes as plantas. Ao longo da primavera e do verão, o crescimento das plantas faz com que elas removam carbono do sistema, ao qual é devolvido a partir do outono e no inverno, com sua morte e apodrecimento. Assim, nas duas primeiras estações as concentrações de CO2 registradas no Hemisfério Norte são mais baixas, geralmente atingindo as mínimas no início do outono do outro lado do equador, para então gradualmente voltarem a subir até chegarem no ápice no fim do inverno.

E esta oscilação também já sofre cada vez mais com a influência humana. Em dois estudos publicados na edição desta semana da revista “Nature”, os cientistas calculam que a chamada “Revolução Verde”, marcada pelo forte aumento da produtividade agrícola nos últimos 50 anos, aumentou a amplitude desta oscilação, isto é, a diferença entre os pontos mínimo e máximo nas concentrações interanuais de CO2 na atmosfera, em 21% a até 50%. Apesar da variação nos resultados devido ao uso de metodologias díspares, estas estimativas representam a primeira tentativa de medir os efeitos das práticas agrícolas intensivas no ciclo de carbono global e deverão ajudar a melhorar e refinar os modelos usados para prever as mudanças climáticas e suas esperadas consequências, como uma maior frequência de eventos extremos como tempestades, furacões e secas em determinadas estações do ano.

— O que estamos vendo é o efeito da Revolução Verde no metabolismo da Terra — conta Ning Zeng, professor da Universidade de Maryland, nos EUA, e principal autor de um dos estudos. — Mudanças na maneira como usamos o solo podem literalmente alterar a respiração da biosfera.

Embora outros agentes, como os oceanos, também contribuam para capturar boa parte do dióxido de carbono lançado pela Humanidade na atmosfera, os cientistas destacam que seus cálculos são mais uma prova de como a ação do homem está deixando marcas mensuráveis nos ciclos naturais de nosso planeta. Além disso, a agricultura é uma variável cada vez mais importante nesta conta, principalmente tendo em vista as previsões de que a produção mundial de alimentos terá que dobrar nos próximos 50 anos para atender à crescente população global, o que, por sua vez, demandará mais conversão de terras para uso agrícola e novos incrementos na produtividade.

— Nos últimos 50 anos, a área de plantio no Hemisfério Norte tem permanecido relativamente estável, mas a produtividade se intensificou fortemente. E o fato de uma área de terra tão pequena ter um efeito tão real na composição da atmosfera é mais uma incrível marca da atividade humana no planeta — conclui Mark Friedl, professor da Universidade de Boston e principal autor do outro estudo.

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