quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Formigas podem contribuir para desacelerar efeito estufa

Formigas aceleram reações minerais que capturam o dióxido de carbono atmosférico



(Scientific American Brasil) E se você pudesse construir um muro de tijolos em seu quintal que reduzisse uma parte de suas emissões diárias de dióxido de carbono, como as produzidas enquanto você dirige até o trabalho? Você faria isso?

Ronald Dorn, professor de geografia da Arizona State University em Tempe, faria. Mas o muro que ele tem em mente não seria construído a partir de tijolos velhos. Ele ficaria coberto com cálcio ou magnésio e habitado por uma colônia de formigas.

Se essa ideia parece bizarra é provavelmente porque – como o próprio Dorn admite – ela realmente é. Mesmo assim, de acordo com ele, é concebível que pessoas de todo o mundo pudessem um dia usar sua própria versão desse método de captura de CO2 usando minerais e formigas para limitar o gás carbônico na atmosfra e assim ajudar a controlar seus efeitos de aquecimento global.

Atualmente o CO2 é o principal gás estufa emitido por meio de atividades humanas, de acordo com a Revisão de Gases Estufa da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. E o volume liberado só aumentou desde a revolução industrial, contribuindo para o aquecimento global.

O uso de formigas para ajudar a capturar CO2 e auxiliar na luta contra o aquecimento global se baseia em um estudo que Dorn publicou recentemente no periódico Geology, associando formigas à aceleração do armazenamento de dióxido de carbono natural em rochas em até 335 vezes, se comparado à absorção em áreas sem formigas.

Respondendo ao estudo, David Schwartzman, professor emérito de biogeoquímica da Howard University que revisou a pesquisa, mas não participou dela, declarou que encorajar a colonização de formigas “será importante parar o sequestro de carbono” da atmosfera.

Mas tanto ele quanto Dorn apontam que as formigas podem não ser sempre necessárias uma vez que pesquisadores descubram mais sobre como esses insetos promovem o sequestro de carbono. “Não sei se podemos ter imensas colônias de formigas em uma usina de energia. Mas se descobrirmos qual secreção específica, de qual glândula de uma formiga produz esse efeito, ou combinações de secreções”, continua Dorn, então essas substâncias talvez pudessem ser produzidas em grandes quantidades.

Como rochas capturam carbono
O próprio Dorn não sabe ao certo como formigas executam essa “mágica”, mas ele tem uma boa ideia sobre como certas rochas absorvem carbono sozinhas.

De acordo com ele, rochas que contêm cálcio e magnésio naturalmente absorvem dióxido de carbono,que reagem formando calcário ou dolomita. Essa captura de carbono feita por rochas já ocorre há muito tempo.

De fato, com o passar de eras geológicas, esse fenômeno provavelmente ajudou a manter os níveis atmosféricos de CO2 e a temperatura do planeta em níveis que permitissem a sobrevivência da vida. A nova pesquisa de Dorn sugere que formigas poderiam ter sido responsáveis por ajudar a acelerar esse processo.

Em geral, Dorn acredita que essa atividade química realmente seja essencial para tornar a Terra habitável. Isso é tão importante que ele e seus alunos conduzem uma cerimônia bastante incomum enquanto realizam pesquisas de campo. “Quando eu levo alunos a campo, eu faço com que beijem o calcário, porque aquele calcário é só CO2 que ficou preso em rochas, e por isso a Terra continua habitável”.

De incômodo a anomalia
Dorn descobriu a contribuição que formigas podem fazer quase por acidente. Na década de 90, como parte de um estudo sobre erosão, ele encontrou minerais em todos os tipos de áreas diferentes – no solo, em terra nua, em crostas cheias de microorganismos, no solo perto de raízes e em um tubo plástico usado como controle. Ele queria uma base para acompanhar mudanças com o passar do tempo.

A princípio, as formigas eram apenas um aborrecimento. “Eu fazia buracos e elas me picavam”, lembra ele. Durante 25 anos ele as suportou enquanto fazia medidas da erosão dos minerais, até que percebeu sua proeza no sequestro de carbono. “Quando eu comecei a processar amostras minerais de áreas diferentes, ficou bem claro que as provenientes de áreas com formigas eram incrivelmente anômalas”, lembra ele, referindo-se ao quanto as formigas aceleravam o processo de captura de carbono. Trabalhos seguintes quantificaram a quantidade de carbono armazenado em rochas visitadas por formigas.

E apesar de ele ainda não ter certeza se o aumento de carbono nas rochas é provocado pela saliva das formigas, seus micróbios, suas secreções glandulares ou algo mais, ele entende que uma maior compreensão do processo poderia ajudar pessoas a fazer um melhor trabalho de captura do carbono da atmosfera. “Eu não entendo como as formigas estão realizando esse processo”, confessa ele. “Eu adoraria conseguir financiamento para estudar isso... Então poderíamos trabalhar com engenheiros minerais ou outros profissionais para descobrir se essa mágica pode ser usada de maneira eficiente e econômica. Isso seria um sonho”.

Schwartzman concorda e declara que esse sequestro de carbono seria imperativo para reduzir o nível de CO2 para menos de 350 partes por milhão (no momento temos 440 ppm) “para evitar as piores consequências da mudança climática continuada, induzida por emissões antropogênicas de CO2 na atmosfera”. Mas ele adiciona que essa liberação de carbono também deve ser reduzida de maneira rápida e radical.

De qualquer forma, há mais de 10 trilhões de formigas na Terra de acordo com algumas estimativas. Assim, “é evidente que precisamos de mais estudos sobre o papel das formigas e outros animais populando solos para ampliar nossa compreensão de sua importância”, conclui Schwartzman.

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