segunda-feira, 31 de março de 2014

Pinturas famosas ajudam a entender a atmosfera no passado



(O Globo) Pintores famosos, como Turner, estão ajudando cientistas gregos e alemães a entender a atmosfera da Terra no passado. Suas pinturas do pôr do sol dão pistas de como eram os níveis de poluição na época, porque revelam cores mais avermelhadas, uma vez que erupções vulcânicas jogavam cinzas e liberavam gases que faziam o céu ganhar novas cores. Os resultados deste estudo foram publicados nesta terça-feira na revista “Atmospheric Chemistry and Physics”, da União de Geociências Europeia (EGU, na sigla em inglês).

Quando o vulcão Tambora, na Indonésia, produziu a maior erupção daqueles últimos 10 mil anos, em 1815, os pintores europeus puderam ver mudanças na cor do céu. Cinzas vulcânicas e gás liberados na atmosfera viajaram o mundo e, como essas partículas aerossóis espalham a luz do sol, elas produziram um pôr do sol mais vermelho e laranja na Europa, por até três anos depois da erupção. J. M. W. Turner foi um dos artistas que pintou estas incríveis imagens na época. Agora, os cientistas estão usando as pinturas dele e de outros grandes mestres para recuperar a informação na composição da atmosfera do passado.

- A natureza fala ao coração e à alma dos grandes artistas - diz o principal autor do estudo, Christos Zerefos, professor de física atmosférica na Academia de Atenas, na Grécia. - Mas descobrimos que, quando eles colorem o pôr do sol, as informações ambientais mais importantes vêm da forma como seus cérebros percebem verdes e vermelhos.

Zerefos e equipe analisaram centenas de fotografias digitais de alta qualidade tiradas de pinturas de pôr do sol feitas entre os anos 1500 e 2000, um período que abrange mais de 50 grandes erupções vulcânicas ao redor do planeta. Eles estavam tentando descobrir se as quantidades de verde e vermelho no horizonte de cada pintura poderia fornecer informações sobre a quantidade de aerossóis na atmosfera.

- Descobrimos que a razão vermelho/ verde medida nas pinturas se relaciona bem com a quantidade de aerossóis vulcânicos na atmosfera, independentemente do estilo dos pintores e da escola a que pertencem - explica o pesquisador.

Céus mais poluídos por cinzas vulcânicas espalham mais a luz do sol, por isso parecem mais vermelhos. Efeitos similares são observados em nuvens de poeira no deserto e aerossóis fabricados pelo homem. O ar com maior quantidade de aerossóis tem uma “profundidade óptica de aerossol” superior, um parâmetro calculado pela equipe de pesquisa usando as proporções de vermelho e verde nas pinturas. Eles então compararam estes valores com os obtidos através de proxies independentes (como dados de explosividade vulcânica) e encontraram boa concordância.

Para sustentar este modelo, os pesquisadores pediram a um famoso colorista que pintasse o pôr do sol durante e depois da passagem de uma nuvem de poeira no deserto do Saara na ilha de Hydra em junho de 2010. Os cientistas compararam as medidas de profundidade óptica de aerossol feita por instrumentos modernos com aqueles estimados da razão verde/ vermelho das pinturas e das fotografias digitais, e descobriram que os dados batiam.

- Queríamos fornecer maneiras alternativas de explorar informações ambientais na atmosfera do passado em lugares onde (e em séculos em que) as medidas instrumentais não estavam disponíveis - conclui Zerefos.
----
Matéria similar na Scientific American Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário