sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Em 2050, o Árctico não deverá ter gelo no Verão, diz relatório das Nações Unidas

O rascunho do relatório da próxima avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas das Nações Unidas antecipa para o meio do século verões quase sem gelo no Pólo Norte, revela o Financial Times. Apesar de 2013 não atingir o recorde do ano passado, este ano é o sexto com menos área de gelo no Árctico no final da época estival.


(Público - Portugal) Nas contas oficiais, o fim do gelo no Árctico durante o Verão está mais perto do que se esperava. Um rascunho do relatório da quinta avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, sigla em inglês), avança que “é provável um oceano Árctico quase sem gelo antes do meio do século”, cita o Financial Times, esta quinta-feira.

O jornal britânico teve acesso ao rascunho do relatório do organismo das Nações Unidas. O IPCC lança, com alguns anos de distância, avaliações com vários relatórios sobre as alterações climáticas causadas pela actividade humana, os impactos dessas alterações, e medidas que sirvam de adaptação.

Previamente, na quarta avaliação do IPCC, publicada em 2007, esse momento – que se prevê vir a ser um testemunho definidor das alterações climáticas – estava estimado para o final deste século. Mas o rascunho do relatório da nova avaliação, que vai começar a ser publicada a 27 de Setembro mas que só deverá ser totalmente concluída no início do próximo ano, antecipa o fim de gelo no Pólo Norte. As estimativas dependem da quantidade de gases com efeito de estufa que poderão ser emitidos para a atmosfera nas décadas futuras.

“Esta nova avaliação do Árctico é um dos mais notáveis aspectos do relatório”, considera o Financial Times. O documento é o produto do trabalho de 800 cientistas de 200 países do mundo que pertencem ao IPCC, um organismo com 25 anos de idade. Um Árctico sem gelo oferece ao tráfego comercial novas rotas, mas o documento descreve o fenómeno como uma “bomba-relógio económica”, já que uma subida de temperatura pode ajudar a libertar o metano contido no permafrost, os solos gelados que existem nas latitudes mais a norte. Este metano pode acelerar as alterações climáticas.

Outra conclusão central do rascunho, diz o jornal britânico, é a de que os cientistas estão mais certos do que nunca que a causa das alterações climáticas é devido à libertação de gases com efeitos de estufa nas actividades humanas.

"É extremamente provável que a influência humana no clima seja a causa de mais de metade da subida das temperaturas médias globais observadas à superfície para o período de tempo entre 1951-2010", lê-se no rascunho do relatório transcrito pelo Financial Times. De acordo com o documento, esta actividade humana causou o aquecimento dos oceanos, o degelo, o aumento do nível médio do mar e mudou alguns extremos climáticos durante a segunda metade do século XX.

Mais um ano de mínimos no Pólo Norte
O fim da época de 2013 da recessão do gelo do Árctico está a poucos dias de ser oficializada pelo Centro Nacional de Dados de Neve e do Gelo dos Estados Unidos, em Boulder, no Colorado. A partir desta semana, a área de gelo começará a aumentar, à medida que as temperaturas arrefecem no Pólo Norte e a água congela, até se formar a área máxima de gelo, que será algures em Março de 2014.

Este ano não se testemunhou o recorde de degelo que aconteceu em 2012, desde que se monitoriza o gelo do Árctico. Mesmo assim, este foi o sexto ano com menos área de gelo no Pólo Norte – apenas cinco milhões de quilómetros quadrados, mais de um milhão de quilómetros quadrados abaixo da média mínima quando se considera o período de 30 anos entre 1981 e 2010. “É certamente uma continuação do declínio a longo prazo”, diz Julienne Stroeve, uma cientista do centro, citada pelo jornal britânico The Guardian. “Estamos a olhar para as mudanças a longo termo, e vão haver solavancos [ano após ano], mas todos os modelos climáticos mostram que vamos perder todo o gelo marinho durante o Verão.”

Em 2012, a área de gelo mínima foi de 3,5 milhões de quilómetros quadrados. “Tivemos um Verão bastante frio [no Árctico] mas mesmo assim o gelo não recuperou as proporções das décadas de 1970 ou 1980”, refere a cientista.

Mas se olharmos para a questão do ponto de vista tridimensional, 2013 já ganhou um recorde. O satélite CryoSat, que desde 2010 avalia a quantidade de gelo que existe em profundidade nos dois pólos da Terra, revelou que em Março este volume atingiu um mínimo nos três anos.

“A partir das medições do satélite, podemos ver que algumas partes da camada de gelo diminuíram mais rapidamente do que outras, mas tem havido uma diminuição do volume de gelo de Inverno e de Verão ao longo dos últimos três anos”, diz Andrew Shepherd, da Universidade de Leeds, no Reino Unido, citado num comunicado de há uma semana no site do CryoSat, um satélite que pertence à Agência Espacial Europeia.

“O volume de gelo foi, no final do último Inverno, de menos de 15.000 quilómetros cúbicos, o que é menor do que qualquer outro ano e indica menos crescimento de gelo durante o Inverno do que o costume”, refere o investigador.

Notícia corrigida às 16h15: A área de gelo mínima de 2012 no Pólo Norte é de cinco milhões de quilómetros quadrados e não de 5000 milhões como foi escrito. A área mínima de gelo em 2013 é de 3,5 milhões de quilómetros quadrados e não de 3,5 mil milhões como estava escrito.
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Matérias similares no UOL e Folha (com infográfico)
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E mais:
A "recuperação" do gelo do Ártico (Carlos Orsi)

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