terça-feira, 20 de março de 2012

Queda Livre


(Alexandre Cherman - Fundação Planetário) O aventureiro Felix Baumgartner pretende quebrar o recorde mundial de salto em altitude. O que passa pela cabeça de um sujeito que, um belo dia, decide saltar de paraquedas a partir de uma altura de 37km?

Hmmm... Não posso dizer o que passa dentro da cabeça dele, o que o levou a planejar tal feito, mas posso dizer exatamente o que passa ao redor de sua cabeça (e de todo o resto de seu corpo) enquanto estiver em queda livre. Estou falando, obviamente, da atmosfera e de suas diferentes camadas!

Graduado em Astronomia, com pós-graduação em Física, não sou exatamente um especialista em atmosfera; tenho com ela a relação que a maioria dos astrônomos tem: conheço-a o suficiente para procurar brechas, visto que a atmosfera é a mais perene barreira que nos separa das informações que vêm do espaço.

Mas tenho que tomar cuidado aqui... não quero passar a ideia de que a atmosfera é uma vilã. Como a barreira que é, ela filtra os raios ultravioletas e nos permite viver em relativo conforto na superfície da Terra. É ela também que nos protege de grande parte dos objetos que caem do espaço.

De volta à aventura de Baumgartner. A 37.000m de altitude, Felix estará bem no meio da estratosfera. Este termo é usado comumente como sinônimo de grande altitude, até em sentido figurado. Você com certeza já deve ter ouvido a frase “os preços estão na estratosfera!”, ou algo similar...

A estratosfera apresenta uma característica curiosa e pouco intuitiva: a temperatura cresce com a altitude. Isso acontece por conta da reflexão dos raios UV pela camada de ozônio, que aquecem os gases desta região. Ou seja, Felix sentirá a temperatura cair à medida que ele mesmo vai caindo em direção à Terra.

Quando ele atingir cerca de 20.000m de altitude, Felix passará por uma região conhecida como tropopausa. A tropopausa é a fronteira entre a estratosfera e a troposfera. A troposfera é a camada mais baixa de nossa atmosfera; ela começa no chão e vai até a tropopausa. Na troposfera, a temperatura se comporta de forma mais usual, diminuindo com a altitude. Ou seja, em sua queda livre, Felix sentirá a temperatura subir enquanto cai.

Outra característica importante da troposfera é a densidade. Ela, que é a menor das camadas atmosféricas, contém sozinha cerca de 80% da massa total de nossa atmosfera. E isso, na queda vertiginosa de Felix, significa que é na troposfera que ele deve abrir seu paraquedas. Se ele o fizesse na estratosfera, pouco adiantaria...

Torçamos para que tudo dê certo e ele chegue em solo com segurança e com o recorde mundial que tanto almeja. Eu continuo sem entender o que leva alguém a planejar isso. Mas confesso que sinto um pouco de inveja. A sensação deve ser incrível!
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