quinta-feira, 14 de abril de 2011

Portugal deu "salto gigante" na ciência polar

Lisboa vai acolher Conferência Europeia do Permafrost em 2014



(Ciência Hoje - Portugal) A ciência polar portuguesa “deu um salto gigante” nos últimos cinco anos, afirmou José Xavier, na III Conferência Portuguesa das Ciências Polares, que decorreu ontem no auditório do Zoologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (UC), antecipando ainda que Portugal vai, cada vez mais, fornecer “massa crítica” a nível internacional neste domínio.

“Após o Ano Polar Internacional 2007-2009, Portugal manteve-se bastante activo ao nível das ciências polares. O crescimento da comunidade polar foi grande”, lia-se também num documento sobre a conferência, organizada pelo Instituto do Mar, Centro de Geofísica e Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da UC.

As ciências polares em Portugal consistem, actualmente, em 15 equipas de várias universidades e institutos de investigação, perfazendo mais de meia centena de cientistas.
Em declarações à agência Lusa, o cientista do Instituto do Mar da UC afirmou que o maior desafio neste domínio será continuar a estabelecer parcerias internacionais, porque só através de outros países é que os cientistas portugueses podem ir para zonas como o Ártico ou a Antárctida.

"Portugal vai, cada vez mais, fornecer massa crítica, conhecimento. O nosso desafio vai ser manter os níveis de produção científica (artigos, livros) para mantermos essas colaborações”, referiu. O investigador disse ainda que é intenção “fomentar colaborações no futuro com países como o Brasil, Espanha e Reino Unido”.

III Conferência Portuguesa das Ciências Polares
A ciência polar consiste na investigação feita no Ártico e na Antártica, onde os efeitos das alterações climáticas "são mais evidentes", segundo José Xavier. "Temos uma grande variedade de equipas portuguesas, em relação às ciências do mar e da terra, ciências atmosféricas e até ciências extra-planetárias, que tentam perceber como estas regiões frias do planeta estão a aquecer ou não, como os animais são capazes de se adaptar ou não e perceber as implicações para o próprio planeta", adiantou.

A III Conferência Portuguesa das Ciências Polares, que contou com a participação de uma centena de pessoas, compreendeu a apresentação dos novos resultados científicos das ciências sociais e da vida e das ciências da terra e atmosfera nestes domínio e a identificação de novas oportunidades científicas.

Gonçalo Vieira, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, falou na conferência sobre o projecto PERMANTAR-2 (Portugal), que estuda as temperaturas destes solos congelados “ricos em matéria orgânica” na Península Antártica e as alterações climáticas. Com o aquecimento das temperaturas, o metabolismo dos microrganismos vai causar a libertação de metano e dióxido de carbono, gases com efeito de estufa.

Outro projecto, apresentado por Pedro Pina, do Centro de Recursos Naturais e Ambiente do Instituto Superior Técnico, está a analisar as redes terrestres de polígonos formadas em Svalbard, no território ártico norueguês, devido às contracções térmicas do terreno, e a compará-las com estruturas semelhantes observadas em Marte. “Marte tem áreas enormes de ‘permafrost’”, explicou Gonçalo Vieira, investigador também ligado a este trabalho.

Incidindo no Oceano Antárctico, o “Projecto Polar”, apresentado por José Xavier, concluiu a existência de variações, ao nível nomeadamente do "camarão do Antártico", devido às alterações climáticas, com “implicações directas” na sobrevivência de vários animais, como os pinguins e albatrozes. Enquanto estes últimos “têm mais capacidade de encontrar alimento [noutras zonas], os pinguins estão mais restritos ao Oceano Antárctico e podem sofrer muito com as alterações climáticas”, disse ainda o investigador à Lusa, à margem da conferência.

Portugal recebe Conferência Europeia do Permafrost em 2014
A IV Conferência Europeia do Permafrost (solos completamente gelados) vai realizar-se em Lisboa, em 2014, foi ontem anunciado em Coimbra, durante a III Conferência Portuguesa das Ciências Polares.

“Será uma montra do estado da arte do ‘permafrost'. Vai permitir trazer [a Portugal] especialistas de todo o mundo, massa crítica estrangeira e vai potenciar o desenvolvimento de novas áreas”, disse à Agência Lusa Gonçalo Vieira.

Ao escolher Portugal para acolher a conferência, que anteriormente decorreu em Itália, Alemanha e Noruega, a Associação Internacional do Permafrost está a reconhecer “a excelência da investigação feita pelos portugueses” neste domínio, considerou.

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