quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Estação sismológica da região que registra mais terremotos no país não funciona

(O Globo / JC) Equipamento que envia os dados dos terremotos ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis) parou de funcionar, diz reportagem

No Mato Grosso, a região que registra maior número e os mais fortes tremores de terra do país está sem estação sismológica em funcionamento para medir a intensidade dos abalos.

O equipamento, que envia os dados dos terremotos ao Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (Obsis), deixou de funcionar há alguns meses, quando a universidade não pagou, por dois meses, o aluguel do canal de satélite. A UnB já acertou o pagamento, mas os dados deixaram de ser transmitidos. Não se sabe se a estação está quebrada ou se a falta de pagamento acabou interrompendo o serviço.

A estação está entre as cidades de Porto dos Gaúchos e Tabaporã, na região centro-norte do Mato Grosso. Nessa faixa, existe uma falha geológica de 6 a 7 quilômetros de extensão que provoca os tremores. Na maioria das vezes, esses sismos acontecem a uma profundidade de cinco quilômetros da superfície, próximo à bacia do Parecis. Ali já foram registrados cerca de 7 mil terremotos durante os 15 anos em que a estação sismológica funcionou. E alguns foram fortes, chegando a 5 ou 6 graus na escala Richter.

- Esta falha vem desde 1959 quando a região começou a ser habitada. A diferença é que hoje há mais de 100 mil pessoas morando por lá e não sabemos qual será o cenário se houver um abalo mais forte. Sem a estação, nem os abalos mais fracos estão sendo medidos. Por isso, queremos reativar a estação até o próximo mês - diz o professor Lucas Vieira Barros, chefe do Observatório Sismológico.

O estado do Mato Grosso é um dos que concentram o maior número de tremores no Brasil, além de estados do nordeste do país. Apenas no primeiro semestre deste ano, dos 33 abalos sísmicos registrados no país, 19 foram em Mato Grosso.

O professor lembra que em 1955, na região da Serra do Tombador, a cerca de 100 quilômetros de Porto dos Gaúchos, foi registrado um abalo de 6,2 graus na escala de Richter. É o mais forte registrado no país de que se tem notícia. Não houve vítimas. Na região, segundo o Observatório, foram registrados pelo menos 14 tremores com magnitude de 5 graus na escala Richter, considerados fortes e que podem ser sentidos pela população. O Observatório Sismológico também quer colocar uma estação sismológica no Tombador.

- O ideal seria ter uma rede permanente de estações nessa região. Mas temos dificuldades de recursos, de pessoal, de burocracia - diz o professor.

Os tremores no Mato Grosso constam até nos registros das colonizadoras que começaram a desbravar o norte do estado. O relatório nº 54 da colonizadora Conomali, de 9 de fevereiro de 1959, mostra que os abalos já eram sentidos em Porto dos Gaúchos.

"No dia 5 de fevereiro, passou aqui pela gleba uma onda sísmica, que abalou todas as casas. Na cantina, as vigas rangiam, caíram objetos etc. O movimento foi precedido de um 'trovão', digo, de um ruído contínuo, semelhante a trovão" - diz um trecho do relatório.

Os colonizadores também registraram as impressões dos moradores sobre o fenômeno. "O efeito sobre a população e os palpites foram os mais diversos. Falou-se em fim do mundo, anunciado para 1960. Já seria este o primeiro sinal. Outros afirmavam que tivesse caído um meteoro, o que é mais razoável. Outro diz ter avistado aviões a jato. O médico achou que seria ruído do excesso de chuvas e das águas, que estariam penetrando na terra até alcançar matérias em fusão. O palpite mais comum é de que a onda tivesse sua origem numa das regiões vulcânicas do Peru ou do Chile" - conclui o relatório da colonizadora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário