terça-feira, 7 de setembro de 2010

Derretimento de gelo cria nova rota de navegação no Ártico

Navio de bandeira norueguesa transportará minério de ferro para a China por atalho no Oceano Ártico

Nordic Barents está carregando 40 mil toneladas de minério de ferro da Noruega para a China e vai passar por atalho no Oceano Ártico através do derretimento de gelo

(Reuters / iG) O navio Nordic Barents está fazendo história ao transportar 40 mil toneladas de minério de ferro da Noruega para a China pelo Oceano Ártico, um atalho através do gelo derretido.

Viajando rumo ao leste pela desolada costa norte da Rússia, o navio que partiu neste sábado (4) é a primeira embarcação comercial com uma bandeira que não a russa que tenta viajar sem escalas pela rota que beira o gelo polar do Ártico, camada de gelo que se retrai no verão.

"Nós estamos indo sobre o topo," afirma John Sanderson, o presidente australiano da mina norueguesa de onde o minério foi extrtaído.

Ao usar a rota do norte da Europa para a Ásia, o Nordic Barents pode economizar oito dias de viagem, o que equivaleria a centenas de milhares de dólares a mais para os donos da carga.

Enquanto muitos cientistas se preocupam com a ampliação das áreas navegáveis e põem a culpa no aquecimento global, os transportadores vislumbram uma nova rota internacional.

A mina de Sanderson já enviou 15 navios para a China desde que começou a extrair minério na cidade de Kirkenes, no norte da Noruega, em outubro. Todas rumaram para o sul, depois para o leste pelo Canal de Suez ou em volta do Cabo da Boa Esperança.

Para alcançar as usinas chinesas, ávidas pela matéria-prima, há ainda a ameaça de encontrar piratas no Oceano Índico.

A rota pelo Ártico tampouco é fácil. No sábado, a camada de gelo permanecia quase tão grande quanto o território norte-americano, mas durante o verão ela retrocedeu quase que a mesma extensão registrada no maior derretimento do Ártico, em 2007.

Os russos estão acordando para o potencial financeiro da rota usada majoritariamente por navios domésticos.

"De repente há uma abertura que dá a essa parte do mundo uma vantagem," afirma Felix H. Tschudi, transportador que trabalha com a mina norueguesa Sanderson.

Willy Oestreng, que preside um grupo de pesquisa sobre os oceanos, classificou a viagem do navio Nordic Barents como histórica. "O Ocidente começa a mostrar interesse na rota."

QUEBRADORES DE GELO
Dois dias depois que a Rússia e a Noruega concordaram em abril passado em pôr um fim num conflito de 40 anos sobre as zonas econômicas do Mar de Barents, autoridades e empresários dos dois países se reúniram em Kirkenes para discutir o transporte internacional por navios.

A lei russa ainda requer uma escolta de quebradores de gelo, mesmo quando o perigo é reduzido, mas taxas e regras começam a se tornar mais flexíveis.

"As empresas e autoridades russas estão prontas agora para ajudar," afirma Mikhail Belkin, gerente de uma frota estatal de quebradores de gelo.

Dois navios alemães atravessaram a rota no ano passado, mas o Nordic Barrent, cargueiro de Felix H. Tschudi, parceiro da mina de Sanderson, é o primeiro navio de outra bandeira que não a russa com permissão para fazer o trajeto sem escalas.

A Rosatomflot, a estatal de quebradores de gelo, gerenciada por Belkin, reservou dois deles para o Nordic por 10 dias. A viagem dura três semanas.

Tschudi não quis dizer o preço cobrado pela Rosatomflot, mas elogiou a empresa, "focada no serviço e pragmática." Segundo ele, a rota pelo norte hoje pode competir com o Suez.

Sem contar o custo com quebradores de gelo, um navio que vai pelo Ártico de Hamburgo até Yokohama pode economizar mais de 200 mil dólares em combustível e em taxas, de acordo com o pesquisador Oestreng.

Belkin, gerente da Rosatomflot, afirma que o seguro tem sido o principal gargalo para o desenvolvimento da rota.

"A rota é ainda pouco familiar para os donos de navios estrangeiros, e é ainda menos familiar para as companhias de seguros," declara.

Apesar disso, Sanderson diz que pode mandar de quatro a seis navios com minério pela rota por verão.

"Alguém tem que marcar o caminho e provar para o resto do mundo que ele é economicamente viável e seguro," afirma.

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