segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Nova falha causou terremoto no Haiti

(Correio Braziliense) Quando um dos maiores terremotos da história sacudiu a metade ocidental da ilha caribenha Hispaniola, onde fica localizado o Haiti, cerca de 200 mil pessoas morreram e 1,5 milhão ficaram desabrigadas. Pouco mais de sete meses depois, o pequeno país tenta se reconstruir e, ao mesmo tempo, cientistas de todo o mundo tentam encontrar as causas da tragédia. Inicialmente, acreditava-se que a falha geológica do Enriquillo, que passa pela capital do país, Porto Príncipe, havia sido a responsável pelo tremor. No entanto, uma pesquisa da Universidade de Purdue, dos Estados Unidos, revelou que a verdadeira causa foi outra fenda, até então desconhecida.

Em entrevista ao Correio, um dos responsáveis pela pesquisa, o americano Eric Calais, explicou que as análises de GPS feitas antes e depois do tremor mostraram que o epicentro do terremoto não correspondia à região inicialmente determinada. “O quadro que emergiu não é compatível com deslizamento horizontal da falha Enriquillo. Cálculos posteriores indicaram que a maioria da derrapagem ocorreu em uma falha diferente, até então desconhecida”, conta o pesquisador. A falha só agora identificada está localizada nos arredores da cidade de Leogane, a 35km da capital do Haiti.

Ele explica que, em uma falha grande como a que passa pelo Haiti, é comum a ocorrência de outras menores. “Essa falha recém-descoberta é provavelmente uma das várias falhas menores que ocorrem ao longo da falha do Enriquillo”, afirma Calai. “Em 1980, algumas falhas secundárias já haviam sido catalogadas por geólogos haitianos na região sul da ilha, mas desde então, infelizmente, não houve muitas pesquisas nesse sentido”, completa.

Para o pesquisador, a descoberta não significa que a região está mais suscetível a terremotos. “Muito pouco mudou sobre a classificação do risco de tremores na região. O que a nossa pesquisa aponta é que ainda há muito trabalho a ser feito se quisermos obter um catálogo detalhado de todas as regiões suscetíveis a abalos no Haiti”, completa Calais.

O chefe do observatório sismológico da Universidade de Brasília (UnB), professor Lucas Vieira, explica que, ao contrário do que a maioria das pessoas acredita, as falhas geológicas não ocorrem como uma fenda isolada. “Existe todo um sistema de fendas, e um abalo em uma pode causar a ativação de outras”, conta o professor. Para ele, é natural que, com o tempo, outras falhas que permanecem ocultas sejam descobertas, exatamente por causa de abalos como esse. “Com a ocorrências de abalos sismicos, falhas sismogênicas que não têm manifestação da superfície podem ser descobertas”, conclui Vieira.

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