sexta-feira, 30 de julho de 2010

Gelo antártico tem as marcas dos problemas ambientais do Brasil

Cientistas brasileiros mostraram que o fenômenos do continente alteram o gelo do Pólo Sul durante a reunião anual da SBPC

Heitor Evangelista, da UERJ, apresenta os resultados da sua pesquisa na reunião anual da SBPC

(iG) Estudos brasileiros na Antártida confirmaram que há relação entre a formação de ciclones na América Latina e variação de volume do gelo antártico. Também estão relacionados o número de chuvas no Brasil e a área oceânica de cobertura do gelo. Pesquisadores perceberam, ainda, as conseqüências da desertificação da região sul do continente a milhares de quilômetros ao sul dali, no gelo antártico – ocorreu aumento de material minerais, quase sempre acompanhado de ar quente.

Por mais longe que Antártida e Brasil pareçam estar e por mais antagônica que ela seja do país tropical, o continente gelado funciona como um grande arquivo da variabilidade ambiental. Isto tudo porque ocorre troca de massa e energia entre a Antártida e a América do Sul, seja por frente fria ou corrente marinha, que deixam os dois continentes interligados.

“Ainda não se sabe quais são os mecanismos climáticos que geram esta relação, mas ela existe”, disse o professor Heitor Evangelista do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais da UERJ, em palestra na terça-feira (27/08) na reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Natal.

As informações que fizeram com que cientistas pudessem chegar a tais conclusões vieram do gelo polar, os chamados testemunhos de gelo. Eles são a melhor fonte de informação sobre o clima e a química atmosférica ao longo do tempo, porque o frio extremo preserva as características das amostras. Ao retirar cilindros de gelo do manto polar com uma perfuradora eletromagnética, é possível analisar sua composição química, datar e a determinar a variabilidade espacial de diferentes parâmetros químicos da neve.

Carbono negro
Outra prova de que tudo está relacionado é o black carbon, o carbono negro. A molécula é um aerossol resultado da queima de combustível fóssil - tanto petróleo, quanto queimada de árvores. Ele se deposita na superfície do gelo, tornando-o mais opaco. Quando o gelo opaco recebe as radiações solares, ele absorve mais calor e contribui para o derretimento da calota polar.

Foi encontrada nos testemunhos de gelo uma concentração maior de carbono nos meses de setembro e outubro, mesmo mês em que ocorre o aumento das queimadas no Brasil. “Todo o registro das queimadas está na Antártida, estes indicativos são provas de que as queimadas no Brasil e na América do Sul têm um impacto global, e não somente regional”, disse Evangelista.

O professor participou da primeira expedição totalmente nacional ao interior do continente antártico, no fim de 2008. Sob a coordenação do glaciólogo Jéfferson Simões, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foram 40 dias na Antártica e coletando amostras de gelo de até 150 metros de profundidade, de neve superficial e de ar polar.

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