quarta-feira, 30 de junho de 2010

Livro conta a história mineral do Brasil

Obra de geólogo paulista e jornalista chileno vai das bandeiras aos atuais garimpos de diamante de Rondônia

(Folha) A principal atração da galeria de minerais do Museu de História Natural de Harvard, nos EUA, é um bloco de rocha vulcânica de meia tonelada cravejado de centenas de ametistas. Na plaquinha lê-se: "Origem: Rio Grande do Sul, Brasil". As crianças que contemplam maravilhadas a imensa pedra (um geodo, ensinam os guias) nem imaginam que no tal Brasil existe uma cidade que leva o nome desse mineral, Ametista do Sul, de onde saem preciosidades ainda maiores que a de Harvard.

O problema é que muitos brasileiros também não sabem da existência de Ametista do Sul. Ou que o Brasil foi, até 1870, o maior fornecedor de diamantes do mundo. Ou que há 80 minerais descritos e batizados no país, com nomes como "bahianita", "goyazita" ou "barbosaíta".

"É inexplicável", pondera o jornalista Carlos Cornejo. "O Brasil está entre as maiores províncias mineralógicas do planeta, e a mineralogia teve papel fundamental da expansão do território". No entanto, diz, essa riqueza geológica passa longe do grande público.

Cornejo -que, ironicamente, é chileno- uniu-se ao geólogo paulista Andrea Bartorelli para tentar sanar ao menos parte dessa deficiência. No mês passado, a dupla lançou um livro de 700 páginas, "Minerais e Pedras Preciosas do Brasil" exclusivamente dedicado ao tema. Os autores entrevistaram garimpeiros, reuniu descrições e histórias dispersas pela bibliografia e conseguiram montar um quadro bastante completo da da mineralogia no Brasil, bem como das espécies minerais do país.

Mas o forte da obra é seu visual: são mais de 1.153 fotos, que vão de gravuras de viajantes do Brasil colônia a imagens de pedras espetaculares, espalhadas por coleções privadas ou que foram transformadas em joias.

O livro ajuda a reabilitar a geologia, ciência que costuma ser discriminada por seu caráter iminentemente pecuniário (e, mais recentemente, pelos impactos ambientais).

Embora pequem por certa falta de didatismo (não chegam a dar, por exemplo, a definição de mineral), o que pode afastar parte do leitorado, os autores conseguem montar um belo panorama histórico do ramo dessa disciplina dedicado aos minerais.

No Brasil, a mineralogia começa no século 16, antes mesmo de ser codificada como ciência. Data dessa época o achado de hematita (mineral de ferro) no morro do Ipanema, perto de Sorocaba, que abrigou a primeira fundição de ferro do país, em 1591.

No século 17, a busca de pedras preciosas (e de índios para escravizar) pelas mãos dos bandeirantes ajudou a empurrar a fronteira da América portuguesa para além da linha de Tordesilhas.

Foi também quando aconteceu o colossal engano de Fernão Dias Paes Leme, que atravessou o sertão de Minas Gerais em busca de esmeraldas, encontrando pedras verdes que não foram reconhecidas como verdadeiras.

O paulista seria vingado três séculos depois, com a descoberta de esmeraldas (uma variante do mineral berilo) no sertão mineiro na década de 1920. Hoje, o Brasil é o segundo maior produtor mundial da pedra verde, só ficando atrás da Colômbia.

Menos conhecida que a saga bandeirante é a atuação de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838), o patrono da Independência, como geólogo e mineralogista.

Formado em filosofia natural pela Universidade de Coimbra, José Bonifácio já havia produzido artigos sobre vários assuntos -como a necessidade de regular a caça à baleia- quando foi estudar mineralogia na Alemanha (Alexander von Humboldt foi um de seus colegas). Numa viagem à Suécia, descreveu 12 minerais -quatro deles inéditos.

Na garimpagem de informações para a obra, que durou 15 anos, Cornejo e Bartorelli acabaram trombando em "causos" preciosos. O mais impressionante, segundo Cornejo, é o da Lavra do Jonas, em Conselheiro Pena Minas Gerais.

Ali, em 1978, dois garimpeiros que vinham explorando sem sucesso uma velha mina de turmalinas encontraram, a uma semana de encerrar a exploração, a maior descoberta do gênero no mundo: um único cristal da pedra preciosa tinha 74 kg.

Um dos garimpeiros, que havia vendido seu Fusca para manter a escavação, chegou a dizer aos autores que não merecia o bamburro (gíria para descoberta capaz de enriquecer o garimpeiro). "Por mais que tivesse rezado, dizia que Deus caprichara demais", lembra o autor.

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