quinta-feira, 29 de abril de 2010

O mau humor do clima

Degelo é intenso nos polos e seca devasta a Etiópia

(O Globo) Dois novos estudos evidenciam que os impactos das mudanças climáticas afetam indistintamente regiões quentes e frias. Na África, uma pesquisa da Oxfam mostra que os agricultores etíopes sofrem com escassez cada vez mais frequente das chuvas, causada pela elevação anormal das temperaturas do Oceano Índico, atribuída ao aquecimento global.

Já pesquisadores britânicos revelam que a perda de gelo flutuante na Antártica e no Ártico, a cada ano, equivale a 1,5 milhão de icebergs do tamanho do que afundou o Titanic. Contrariando o que se sabia até agora, embora este gelo já esteja no mar, ele poderia estar contribuindo para elevar o nível dos oceanos. Isso ocorreria porque, como a água do mar é mais morna e salgada que o gelo flutuante, haveria um desequilíbrio capaz de elevar o oceano.

A crescente escassez de chuvas na Etiópia - um dos países mais pobres do mundo - afeta drasticamente a produção de alimentos, levando muitos agricultores à ruína. Sem condições de trabalhar e se sustentar - perdendo colheitas e vendo a morte dos seus animais - eles buscam novas fontes de renda, muitas vezes abandonando suas casas e deixando para trás as famílias.

É o que revela o estudo da Oxfam, que relaciona o fenômeno ao aquecimento global e comprova que a África está sendo cada vez mais atingida pelas mudanças climáticas, embora tenha contribuído pouco para que elas ocorressem.

O estudo ressalta que o setor agrícola no país - diretamente responsável pela sobrevivência de 85% da população - é especialmente vulnerável às adversidades do tempo, já que possui poucos recursos tecnológicos e é dependente das chuvas (em vez da irrigação).

- A agricultura na Etiópia é muito dependente das chuvas. Isso é agravado pelo crescimento cada vez maior da população, que exige a produção de mais alimentos - afirma Abera Tola, diretor da Oxfam e um dos redatores do relatório. - Nosso estudo mostra que a situação dos agricultores, que já era precária, tem piorado com a escassez de chuvas.

Oceano Índico tem aquecimento anormal
Para o climatologista Chris Funk, da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, as alterações no ritmo das chuvas estão ligadas ao aquecimento do Oceano Índico nos últimos 30 anos.

- Em três décadas, a escassez e a imprevisibilidade das chuvas na Etiópia se agravaram. E isso coincide com o aquecimento anormal das águas do Oceano Índico, associado à emissão de gases do efeito estufa - afirma Funk, que participou do estudo. - Tal aquecimento faz com que o fluxo de umidade que chega ao país seja alterado, trazendo, em vez de chuvas, correntes de ar secas e quentes. E a tendência é que esse fenômeno se intensifique cada vez mais.

No Reino Unido, pesquisadores da Universidade de Leeds comprovaram, pela primeira vez, a velocidade das drásticas reduções do gelo flutuante nos pólos. De acordo com o trabalho, que foi publicado na revista "Geophysical Research Letters", tal redução é equivalente ao degelo de 1,5 milhão de icebergs do tamanho daquele que causou o naufrágio do Titanic, em 1912.

Mesmo assim, o aumento do nível do mar causado por esse degelo ainda é pequeno. Em um ano, esse aumento seria o equivalente ao diâmetro de um fio de cabelo. Para os pesquisadores, porém, o impacto desse degelo é um sinal que não pode ser ignorado.

- Essas mudanças tiveram impacto no clima regional. Já que se espera que os oceanos aumentem sua temperatura ao longo do século, o degelo desses icebergs deve ser considerado em avaliações futuras do aumento do nível do mar - diz Andrew Shepherd, autor do estudo.

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