terça-feira, 27 de abril de 2010

Especialistas ainda não são capazes de afirmar quando e com qual intensidade os vulcões entrarão em atividade

A única certeza é que outras erupções, como a do Eyjafjallajokull, na Islândia, continuarão ocorrendo nos próximos anos

(Correio Braziliense) Vulcões são imprevisíveis e difíceis de compreender. Não há como saber quando eles vão entrar em atividade e quais serão a intensidade e as consequências da erupção. A mistura de lava e cinzas com a camada de gelo surgida depois da atividade vulcânica na Islândia assustou o mundo na semana passada. A enorme nuvem chegou até as altitudes usadas por aviões e causou o cancelamento de milhares de voos. Apesar da calma dos últimos dias, a força da natureza pode surgir a qualquer momento naquela região. Alguns cientistas defendem que, por causa da movimentação das placas oceânicas, outras erupções piores podem ocorrer nos próximos dias ou anos.

Erupções sempre ocorreram na Islândia. A ilha, localizada no norte do Oceano Atlântico, é vulcânica e suas rochas são formadas por lavas. A erupção do Eyjafjallajokull foi muito intensa, mas é pequena se comparada a outras que marcam a história do território. “A região tem muito vulcões ativos porque está localizada no meio de uma saliência oceânica onde as placas da Terra estão se afastando umas das outras. E como é possível que essas formações estejam localizadas debaixo de uma geleira, os problemas causados pelo vulcão se tornam maiores por causa do gelo”, diz em entrevista ao Correio Brian Toon, coordenador do departamento de Ciência Atmosférica e Oceânica da Universidade do Colorado.

Apesar de a grande nuvem de cinzas ter assustado os europeus, formações assim são comuns nesses casos e, na maioria das vezes, afeta o tráfego aéreo. “No Alasca e na Indonésia, por exemplo, aeronaves precisaram reiniciar seus motores quando passaram pelas cinzas. Um grande número de aviões, eu acredito que no mínimo 100, voaram por nuvens vulcânicas nas últimas duas décadas. Um jato de pesquisa da Nasa teve o motor danificado em 2000 e a substituição das máquinas custou milhões de dólares”, comenta Toon.

Depois de um abalo sísmico no final de 2009, o Eyjafjallajokull começou a entrar em erupção em 20 de março passado. Em 14 abril, a enorme nuvem de cinza chegou ao norte europeu. Nos últimos dias, o vulcão parece ter se acalmado, mas ele pode continuar em erupção por algum tempo, possivelmente durante meses. E nuvens de cinzas podem ser expelidas ocasionalmente. “Acredito que já passamos pelo pior. No entanto, os vulcões da Islândia têm tido diversos efeitos na Europa antes, como em 1783. Na época, houve uma emissão significante de dióxido de enxofre durante todo o verão, o que causou uma poluição do ar severa em toda a Europa e causou uma mudança no clima no mundo todo durante o inverno. Na erupção atual, essa substância não foi jogada tão intensamente na atmosfera”, explica o professor.

Consequências
Para o pesquisador de geofísica da Universidade do Texas, Jay Miller, que há 25 anos estuda as atividades vulcânicas da Islândia, a natureza pode se comportar de diversas formas. “A cada cinco anos, em média, a região passa por isso. Então, a única certeza que temos é que erupções vão acontecer de novo. Pode ser pior? Não sabemos. Temos evidências geológicas de atividades vulcânicas no passado(1), mas a maioria é muito parecida com a que está acontecendo agora”, afirma à reportagem.

Enquanto a enorme nuvem de cinzas começa a se dispersar no céu europeu, os especialistas acreditam que ele não deve trazer novas consequências. “Ela aparenta não ter densidade para causar nenhum impacto na atmosfera ou no clima. Talvez apenas na Islândia. Agora, se a erupção aumentar sua intensidade ou continuar durante muito tempo, isso pode mudar”, comenta Miller.

A erupção se origina abaixo da camada de gelo e, quando chega à superfície, reage com a água, jogando uma fumaça abundante na atmosfera. “Isso se tornou um problema para a Europa quando os ventos levaram as cinzas para o leste. Se ele soprasse para outra direção ou se o vulcão tivesse atividade longe da geleira, as cinzas nem seriam percebidas, a não ser pela população da Islândia e pelos especialistas”, afirma Miller.

Os efeitos da atividade vulcânica a longo prazo podem ser positivos ou negativos. “Como a lava tem enxofre, ele pode se misturar com a água e causar chuvas ácidas na região. Se a erupção for mesmo prolongada e essa combinação ocorrer, ela também pode dificultar a entrada de raios solares e diminuir um pouco a temperatura”, afirma o pesquisador americano. Grandes erupções vulcânicas tiveram um efeito refrigerador no clima da Terra, porque a química poderia trazer um certo alívio para o aquecimento global.

1 - História
As erupções mais fortes da história da Islândia aconteceram em 934 a.C. e em 1783. Essa última foi testemunhada pelo estadista e cientista norte-americano Benjamim Franklin, que foi embaixador na França nessa época. Ele chegou a escrever em suas memórias que aquele tinha sido um ano em que não houve verão. Uma nuvem de cinzas foi expelida do vulcão Laki e cobriu a Europa durante quase 12 meses.

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