( Jean Remy Davée Guimarães - Ciência Hoje) Como todos os cariocas, estou derretendo sob uma onda de calor sem precedentes, na qual os dias tórridos se sucedem sem piedade há duas semanas. A sensação térmica é de 50 graus ou mais. De moto então, sobre o asfalto escuro de uma linha expressa, e imerso em gases veiculares recém-emitidos, 70 graus, talvez? No início do verão foi o inverso, choveu quase sem parar durante cerca de duas semanas. São recordes: o mês mais chuvoso ou as temperaturas mais altas dos últimos 70 e tantos anos. Ora direis que isso já ocorreu no passado recente ou geológico, são ciclos naturais. Pode ser. E pode não ser.
Um grupo de cientistas do ramo, nada pequeno – são quase 2 mil – está convencido de que o aquecimento é um fato, e que é devido às atividades humanas, em particular às emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa. Esse grupo, conhecido como IPCC ou Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, tem acesso às bases de dados mais longas e completas, aos computadores mais velozes, aos satélites com a melhor resolução, etc etc... Ganharam um Nobel pelo trabalho coletivo realizado, assim como o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, o conhecido paladino que vem batendo na tecla há anos.
Mas as conclusões do IPCC são de fato uma chatice. Se as levarmos a sério, vamos ter de mudar tudo. Ai, que preguiça, andar 34 km diários de bicicleta entre a minha casa e o trabalho, sem ciclovia, neste calor. Mas e o metrô, de fundo e de superfície? O primeiro não passa nem aqui em casa nem no meu trabalho. O de superfície eu ouvi falar, mas nunca vi. E as inúmeras linhas de balsas e lanchas interligando os bairros que se encontram nas margens da baía de Guanabara, e que, como o metrô, não engarrafam nunca? Essas eu nunca ouvi nem falar, só sonhei, que é coisa que ainda não paga imposto e não ofende ninguém.
Portanto, continuo andando de carro ou de moto. E abastecendo com gasolina, porque o álcool ficou (temporariamente?) mais caro por quilômetro rodado do que a gasolina? Não. Como eu prefiro ser menos ambientalmente incorreto, pago um pouco mais e ainda tenho que aturar a demora do frentista que não acredita no que vê e, quando confirmo que é mesmo o álcool que eu quero, me olha como se eu fosse um meteorito recém-caído.
Céticos do clima
Como esse tipo de experiência propicia devaneios no engarrafamento, me ponho a pensar: nossos governos, embora jurem que não, são céticos do clima. Isso mesmo, eles acham que o aquecimento global é balela e que, se existe, não é culpa nossa. Como assim? Por absurdo: se não fossem céticos, já haveria uma ciclovia para cada calçada, haveria a bolsa-bicicleta, o ticket-álcool, concorrências regulares para novas linhas aquaviárias, ônibus movidos apenas a biogás, subsídios para empresas que processam alimento produzido a menos de 100 km da fábrica, crédito na conta de luz para quem reduzir o consumo e assim por diante.
Mas o engarrafamento que me faz pensar tanta besteira é causado por uma obra. Em via pública. Feita por empresa privada. No horário comercial. E tenho certeza de que já vi a mesma obra sendo feita, no mesmo lugar, há pouco tempo, por outra empresa. De fato o trabalho noturno é mais caro e as emissões de carbono e calor do engarrafamento evitável não estão em planilha alguma, pública ou privada.
Não sei não, acho que vai ser difícil mudar. Dá muito trabalho, requer muita imaginação, e ela não está no poder.
Mas quem são esses céticos que acham o IPCC feio, bobo, mentiroso e vendido?
Bom, eles não põem adesivo no carro, mas podemos imaginar que os mais incomodados são as grandes empresas de petróleo. Oops, desculpe, elas agora são todas empresas de energia. As indústrias de cimento, siderurgia, alumínio e vidro também não estão gostando nada disso. As automobilísticas idem. Ixe! Haja peso-pesado. Mas então quem assume publicamente o ceticismo? Cientistas.
Os autores dos numerosos livros que têm questionado a 'tese’ do aquecimento antropogênico assinam sozinhos ou em dupla. Têm currículos razoáveis ou mesmo sólidos. Mas seus argumentos são bastante parecidos. Um dos mais recorrentes é de que as estações de medida de temperatura que eram rurais ou suburbanas estão agora cercadas de áreas urbanas, e como as cidades são mais quentes que a média da crosta terrestre, isso criaria um artefato, superestimando as temperaturas.
Mas... O mundo não é justamente cada vez mais urbano, as cidades cada vez maiores e mais numerosas? Embora eu ache assustador testemunhar o sumiço das geleiras e o derretimento acelerado dos polos, me preocupo mesmo é com meu pedaço de crosta terrestre, que é urbano e, portanto, mais quente que a média da crosta.
E há umas coisas que eu não entendo. Como é que esses poucos céticos perceberam algo que os 2 mil cientistas do IPCC não notaram? Ou ainda, que interesses escusos moveriam essa turma do IPCC? Quem estaria interessado em nos convencer, com dados talvez manipulados, de que o planeta está se aquecendo e que isso não vai acabar bem? Os fabricantes de bicicletas, aquecedores solares e energia eólica? O Greenpeace? O Al Gore? O Bin Laden? Deixem-me rir (pensando bem, neste calor, melhor não). Uma teoria conspiratória que não identifica seus interessados diretos, nunca vi. Já o inverso, grupos econômicos tentando desqualificar as conclusões incômodas da ciência, não é novidade.
Mas esqueci justamente dos cientistas: quem sabe são eles que criaram uma aliança planetária secreta para gerar o pânico, visando obter mais verbas para suas pesquisas, o que resultaria em mais publicações em revistas indexadas e possibilidade de obter uma bolsa em seus respectivos conselhos nacionais de pesquisa? Hum... Já vi desenhos animados melhores.
Mas, vai ver, estou mal informado.
Ou será efeito do calor?
Um grupo de cientistas do ramo, nada pequeno – são quase 2 mil – está convencido de que o aquecimento é um fato, e que é devido às atividades humanas, em particular às emissões de dióxido de carbono e de outros gases de efeito estufa. Esse grupo, conhecido como IPCC ou Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas, tem acesso às bases de dados mais longas e completas, aos computadores mais velozes, aos satélites com a melhor resolução, etc etc... Ganharam um Nobel pelo trabalho coletivo realizado, assim como o ex-vice-presidente norte-americano Al Gore, o conhecido paladino que vem batendo na tecla há anos.
Mas as conclusões do IPCC são de fato uma chatice. Se as levarmos a sério, vamos ter de mudar tudo. Ai, que preguiça, andar 34 km diários de bicicleta entre a minha casa e o trabalho, sem ciclovia, neste calor. Mas e o metrô, de fundo e de superfície? O primeiro não passa nem aqui em casa nem no meu trabalho. O de superfície eu ouvi falar, mas nunca vi. E as inúmeras linhas de balsas e lanchas interligando os bairros que se encontram nas margens da baía de Guanabara, e que, como o metrô, não engarrafam nunca? Essas eu nunca ouvi nem falar, só sonhei, que é coisa que ainda não paga imposto e não ofende ninguém.
Portanto, continuo andando de carro ou de moto. E abastecendo com gasolina, porque o álcool ficou (temporariamente?) mais caro por quilômetro rodado do que a gasolina? Não. Como eu prefiro ser menos ambientalmente incorreto, pago um pouco mais e ainda tenho que aturar a demora do frentista que não acredita no que vê e, quando confirmo que é mesmo o álcool que eu quero, me olha como se eu fosse um meteorito recém-caído.
Céticos do clima
Como esse tipo de experiência propicia devaneios no engarrafamento, me ponho a pensar: nossos governos, embora jurem que não, são céticos do clima. Isso mesmo, eles acham que o aquecimento global é balela e que, se existe, não é culpa nossa. Como assim? Por absurdo: se não fossem céticos, já haveria uma ciclovia para cada calçada, haveria a bolsa-bicicleta, o ticket-álcool, concorrências regulares para novas linhas aquaviárias, ônibus movidos apenas a biogás, subsídios para empresas que processam alimento produzido a menos de 100 km da fábrica, crédito na conta de luz para quem reduzir o consumo e assim por diante.
Mas o engarrafamento que me faz pensar tanta besteira é causado por uma obra. Em via pública. Feita por empresa privada. No horário comercial. E tenho certeza de que já vi a mesma obra sendo feita, no mesmo lugar, há pouco tempo, por outra empresa. De fato o trabalho noturno é mais caro e as emissões de carbono e calor do engarrafamento evitável não estão em planilha alguma, pública ou privada.
Não sei não, acho que vai ser difícil mudar. Dá muito trabalho, requer muita imaginação, e ela não está no poder.
Mas quem são esses céticos que acham o IPCC feio, bobo, mentiroso e vendido?
Bom, eles não põem adesivo no carro, mas podemos imaginar que os mais incomodados são as grandes empresas de petróleo. Oops, desculpe, elas agora são todas empresas de energia. As indústrias de cimento, siderurgia, alumínio e vidro também não estão gostando nada disso. As automobilísticas idem. Ixe! Haja peso-pesado. Mas então quem assume publicamente o ceticismo? Cientistas.
Os autores dos numerosos livros que têm questionado a 'tese’ do aquecimento antropogênico assinam sozinhos ou em dupla. Têm currículos razoáveis ou mesmo sólidos. Mas seus argumentos são bastante parecidos. Um dos mais recorrentes é de que as estações de medida de temperatura que eram rurais ou suburbanas estão agora cercadas de áreas urbanas, e como as cidades são mais quentes que a média da crosta terrestre, isso criaria um artefato, superestimando as temperaturas.
Mas... O mundo não é justamente cada vez mais urbano, as cidades cada vez maiores e mais numerosas? Embora eu ache assustador testemunhar o sumiço das geleiras e o derretimento acelerado dos polos, me preocupo mesmo é com meu pedaço de crosta terrestre, que é urbano e, portanto, mais quente que a média da crosta.
E há umas coisas que eu não entendo. Como é que esses poucos céticos perceberam algo que os 2 mil cientistas do IPCC não notaram? Ou ainda, que interesses escusos moveriam essa turma do IPCC? Quem estaria interessado em nos convencer, com dados talvez manipulados, de que o planeta está se aquecendo e que isso não vai acabar bem? Os fabricantes de bicicletas, aquecedores solares e energia eólica? O Greenpeace? O Al Gore? O Bin Laden? Deixem-me rir (pensando bem, neste calor, melhor não). Uma teoria conspiratória que não identifica seus interessados diretos, nunca vi. Já o inverso, grupos econômicos tentando desqualificar as conclusões incômodas da ciência, não é novidade.
Mas esqueci justamente dos cientistas: quem sabe são eles que criaram uma aliança planetária secreta para gerar o pânico, visando obter mais verbas para suas pesquisas, o que resultaria em mais publicações em revistas indexadas e possibilidade de obter uma bolsa em seus respectivos conselhos nacionais de pesquisa? Hum... Já vi desenhos animados melhores.
Mas, vai ver, estou mal informado.
Ou será efeito do calor?
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