segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Especialista espera "previsão do tempo" para terremotos em alguns anos


(Folha) A sismologia, ciência que estuda os terremotos, deve conseguir um grau de confiabilidade semelhante ao da meteorologia dentro de alguns anos, afirma um dos maiores especialistas da área.

Segundo Thomas Jordan, diretor do Centro de Terremotos do Sul da Califórnia, a previsão de abalos a longo prazo ainda é um objetivo incerto, mas a detecção de grandes tremores com até alguns minutos de antecedência pode se tornar realidade.

Em palestra neste sábado (20) no encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), em San Diego, o sismólogo usou a comparação com a meteorologia porque hoje a previsão do tempo é relativamente confiável no prazo de poucos dias.

Já prever a hora e localização de uma chuva com um mês de antecedência é algo praticamente impossível.

"Operacional"
Em sua apresentação, Jordan elencou quais têm sido os últimos avanços de um campo que os geólogos batizaram de previsão "operacional" de terremotos.

A expressão indica que, nessa área, os cientistas têm que extrair o máximo de informação de um número limitado de dados e de estatísticas com alta margem de erro.

"Se ainda não podemos prever terremotos, já podemos dizer como a probabilidade da ocorrência de um terremoto em determinado local muda com o tempo", diz.

"Há muitos eventos antes do terremoto, que conduzem a ele. Um deles é a sobrecarga sobre placas tectônicas que ocorre à medida que elas se movem e acumulam estresse. Esse estresse se concentra e uma hora irrompe", completa ele.

Jordan apresentou resultados das simulações de terremotos que seu grupo faz em computador. Para simular como seria um grande abalo no sul da Califórnia, o cientista usa mapeamentos tridimensionais da falha geológica de San Andreas, que corta a região americana.

Na representação de um terremoto gigantesco, de 7,9 na escala Richter, uma onda corta toda a região desde San Diego até o norte de Los Angeles, levando 85 segundos para percorrer essa área.

Segundo ele, isso mostra que investir em sistemas de alerta para terremotos é importante. Oitenta e cinco segundos parece pouco tempo, mas pode ser suficiente para alguém sair de um prédio, por exemplo. Segundo Jordan, porém, cidades ricas que ficam perto de falhas geológicas não acordam para isso.

"Em 2008, fizemos no sul da Califórnia o maior exercício de reação de emergência já realizado para terremotos, envolvendo várias agências governamentais e 5 milhões de voluntários registrados", conta.

"O que esse cenário mostrou foi que os planos de emergência para lidar com abalos dessa magnitude são inadequados", esclarece.

Quanto mais aumenta o intervalo entre abalos em uma região, maiores tendem a ser suas intensidades, pois o estresse entre placas tectônicas vai se acumulando. "Mesmo pequenos ganhos em sistemas de alerta podem aumentar nossa resistência a terremotos catastróficos", diz o cientista.

Antes e depois
Uma área de pesquisa que está atraindo a atenção de muitos sismólogos agora, segundo Jordan, é a dos chamados "fore-shocks" (algo como "pré-choques", em inglês).

São pequenos terremotos que, em alguns casos, ocorrem antes de um abalo realmente perigoso, em oposição aos "aftershocks" (ou "pós-choques"), que ocorrem depois.

Cerca de metade dos grandes terremotos surgem acompanhados de "fore-shocks", diz Jordan, mas ninguém ainda sabe explicar o porquê. Esses abalos modestos muitas vezes ocorrem sem despertar tremores grandes.

Experiências recentes, porém, como o terremoto que arrasou a capital do Haiti em janeiro e o abalo do ano passado em Áquila, na Itália, estão ajudando cientistas a estudar esse fenômeno.

No entanto, Jordan alerta que os tremores na Itália e no Haiti seguiram padrões bem diferentes.

"Em Porto Príncipe, até onde sabemos, não aconteceram 'foreshocks'. Em Áquila, ocorreu uma sequência muito grande deles", explica o pesquisador.

"Isso reacendeu o debate sobre se um terremoto como esse pode ser previsto", ressalta o especialista.

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