quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Sismólogos esperavam terremoto na República Dominicana, não no Haiti

Grupo vai instalar os primeiros sensores sísmicos do território haitiano. Jamaicanos demonstram preocupação com novos abalos.

Foto da Ilha Hispaniola, tirada pela tripulação da estação espacial internacional (ISS) em setembro do ano passado (Foto: Nasa ISS 28-09-2009)

(The New York Times / G1) Para cientistas que estudam ameaças sísmicas no Caribe, não houve surpresa no terremoto de 7 graus de magnitude que devastou a capital do Haiti, Porto Príncipe, no dia 12 de janeiro. Exceto, talvez, pela localização, na Ilha Hispaniola, onde o tremor ocorreu. “Se eu tivesse de apostar, apostaria que o primeiro terremoto ocorreria no norte da República Dominicana, não no Haiti”, diz Eric Calais, geofísico da Universidade Purdue que conduz pesquisas na área há anos.

Clique aqui para acessar um mapa de sismicidade da Placa Caribenha (formato .pdf)

A falha que rompeu violentamente há duas semanas estava acumulando tensão desde o último grande terremoto em Porto Príncipe, há 240 anos. Calais e outros especialistas tinham alertado em 2008 que um terremoto poderia ocorrer ao longo daquele segmento, parte do qual se chama zona de falha de Enriquillo-Plantain Garden, embora eles não pudessem prevê-lo.

No entanto, cerca de 160 quilômetros ao norte há uma falha similar, a Setentrional, onde não ocorreu nenhum terremoto em 800 anos. Pesquisadores calculam que uma ruptura ao longo da falha – e, de novo, eles não têm ideia de quando isso pode acontecer – poderia resultar num tremor de 7,5 graus capaz de causar danos graves na segunda maior cidade da República Dominicana, Santiago, e o Vale Cibao, ali perto. Milhões de pessoas moram nesses locais.

“Você pode imaginar a tensão que tem se acumulado aqui”, diz Paul Mann, experiente cientista da Universidade do Texas, referindo-se à falha Setentrional. “Isso ocorre há mais tempo e tem se acumulado mais rapidamente. Assim, vai produzir um terremoto mais forte.”

O terremoto recente na falha de Enriquillo e a previsão para a Setentrional são tristes lembretes de que o Caribe é uma zona sísmica ativa, com muitos perigos. Grandes terremotos regularmente devastam as cidades da região, incluindo a capital da Jamaica, Kingston, que foi destruída duas vezes em três séculos. Uma erupção do Monte Pelee matou 30 mil pessoas na Martinica, nas Pequenas Antilhas, em 1902. Vulcões estão ativos atualmente ao longo daquele arco de ilhas no norte e no leste do Caribe. Terremotos e deslizamentos ao longo da Fossa de Porto Rico, uma zona de falha submarina, tem potencial para causar tsunamis.

O próprio terremoto no Haiti pode ter contribuído para os riscos, afirmam pesquisadores. Calais e colegas, além de uma equipe que inclui Ross Stein, da Pesquisa Geológica dos Estados Unidos, em Menlo Park, Califórnia, calcularam separadamente as mudanças na falha de Enriquillo ocorridas quando um segmento de 48 km, centralizado em Leogane, cerca de 29 km a oeste de Porto Príncipe, cedeu este mês. Embora os resultados sejam preliminares, o trabalho mostra que as tensões têm aumentado logo à esquerda e logo à direita do segmento, a menos de 5 km de Porto Príncipe.

“O terremoto aumentou o risco em outros segmentos daquela falha e talvez em outras falhas também”, afirma Calais. “Os números estão dentro do espectro de mudanças de tensão que deflagraram terremotos em outras falhas.” Entretanto, ele afirmou que o tremor provavelmente não aumentava a probabilidade de um grande terremoto na falha Setentrional.

O terremoto do Haiti produziu um grande número de abalos sísmicos secundários, cerca de três vezes mais que tremores de magnitude similar na Califórnia e em outros locais, diz Stein. Porém, a intensidade e a frequência desses tremores adicionais seguiram os padrões de outros terremotos. Na última quinta-feira, a Agência de Pesquisas Geológicas dos Estados Unidos (USGS) emitiu uma declaração calculando que havia 3% de probabilidade de um abalo sísmico adicional de magnitude 7 nos próximos 30 dias, e uma probabilidade de 25% de um de magnitude 6.

Pesquisadores afirmaram que nenhum dos tremores adicionais ocorreu na área de tensão aumentada perto de Porto Príncipe, onde alguns poderiam ser esperados – um motivo de preocupação.

“Uma possibilidade é que sejam apenas cálculos e que eles possam estar errados”, afirma Stein. “A outra possibilidade é: ‘Ok, essa falha está fundamentalmente presa de alguma forma, em todas as escalas, e pode ser capaz de deflagrar algo muito forte’.”

Na recente declaração, a USGS alertou que, perto da capital, “a falha ainda armazena tensão suficiente para ser liberada na forma de um grande e devastador terremoto”.

Às cegas
O Haiti, por exemplo, não tem sensores sísmicos: não há formas de medir todos os pequenos tremores capazes de ajudar a caracterizar a falha de Enriquillo. Pesquisadores contam com uma rede de 35 medidas padrões para medir movimentos de falhas. Na semana passada, Calais, Mann e outros pesquisadores estavam planejando uma viagem ao Haiti para realizar medições mais precisas para seus cálculos de tensão, e para instalar dispositivos capazes de monitorar a zona de falha continuamente durante um ano ou mais.

Pesquisadores afirmaram ainda que são necessários mais estudos sobre as falhas Setentrional e Enriquillo, além de outros locais no Caribe, e que os governos precisariam se preparar melhor para o inevitável.

Já há sinais de que o terremoto no Haiti causou preocupação em outras partes da região, pelo menos na população em geral. Mann contou que participou de programas de rádio jamaicanos nas últimas duas semanas para discutir essas ameaças. “Eles sabem que já foram destruídos duas vezes”, disse. “Eles sabem que suas construções não são as melhores. Tudo isso deixou o país inteiro preocupado. Toda a região está apreensiva.”

As duas falhas geológicas que cortam a Ilha Hispaniola, compartilhada por Haiti (a oeste) e República Dominicana (a leste) (Foto: USGS)

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