terça-feira, 5 de maio de 2009

Poder de destruição dos vulcões depende das rochas

É incerto que erupções vulcânicas conseguiriam causar uma mudança climática capaz de levar a uma extinção em massa


(Nature / Terra) Grandes erupções vulcânicas foram algumas vezes seguidas de extinções em massa - mas não sempre. A razão parece estar na química das rochas próximas ao vulcão.

O dióxido de carbono liberado por essas grandes erupções tem sido responsabilizado pelas extinções em massa, já que se acredita que o gás tenha aquecido o planeta, erradicando boa parte de seus animais e plantas.

Entretanto, é incerto se mesmo as maiores erupções vulcânicas conseguiriam expelir para a atmosfera gás suficiente para causar o tipo de mudança climática que levaria a uma extinção em massa. De fato, geólogos descobriram provas de muitas erupções vulcânicas gigantescas no passado que não parecem ter qualquer relação com extinções em massa.

Agora, uma equipe de pesquisadores analisou quanto CO2 rochas não-vulcânicas próximas a vulcões podem liberar se forem superaquecidas. Eles descobriram que em alguns casos as rochas podem soltar muito mais CO2 do que o próprio vulcão.

Teoria explosiva

Clemente Ganino e Nicholas Arndt, da Universidade Joseph Fourier em Grenoble, França, exploraram uma área vulcânica de quase 260 milhões de anos no sudoeste da China que parece ter sido formada na mesma época em que uma extinção em massa acabou com 35% de todos os gêneros do planeta. Por mais catastrófica que tenha sido essa extinção - ocorrida no meio do período Permiano, ela foi pequena se comparada à que aconteceu 10 milhões de anos mais tarde. Esta foi a maior extinção da história, eliminando mais de 70% de todos os gêneros, incluindo 90% de toda vida no oceano e milhares de espécies -como trilobitas, muitos tubarões primitivos, o peixe blindado conhecido como placodermo e os répteis com barbatanas traseiras chamados pelicossauros.

Porém, a causa das extinções no final e no meio do período Permiano ainda é tema de acalorados debates. Ganino e Arndt analisaram de perto a dolomita, uma das rochas mais comuns na região em que ocorreu a erupção do Permiano Médio. A dolomita é composta de cálcio, magnésio e carbonato; quando aquecida, se quebra em óxido de magnésio, carbonato de cálcio e CO2. Os pesquisadores calculam que um quilograma de dolomita aquecida por uma fonte vulcânica produziria 240 gramas de dióxido de carbono. Eles também descobriram que pedras de mármore impuras da área liberam entre 220 e 290 gramas de CO2 por quilo de rocha quando aquecidas.

Hoje, devido à erosão, a área vulcânica chinesa não é muito grande. Mas antes de ser vítima das intempéries, geólogos estimam que essa rocha vulcânica cobria 500 mil km². Com base na abundância de rochas sedimentares que liberariam dióxido de carbono se aquecidas, Ganino e Arndt estimam que entre 61,6 mil e 145,6 mil Gt (gigatoneladas) de CO2 foram liberadas.

Isso é muito mais que os meros 16,8 mil Gt de CO2 normalmente liberados pelo magma durante erupções, explica Ganino. "A massa de CO2 liberado por rochas sedimentares é de 3,6 a 8,6 vezes maior que a massa de CO2 liberado pelo magma. Não esperávamos uma diferença tão enorme", conta.

Atiçando o fogoHenrik Svensen, da Universidade de Oslo, Noruega, foi um dos primeiros pesquisadores a sugerir que as rochas abaixo das erupções vulcânicas poderiam ter um papel na devastação causada pelas erupções. "Mais de 99% de todo carbono da superfície da Terra está armazenado em rochas sedimentares, e aquecer essas rochas com o material em alta-temperatura que sai dos vulcões é uma boa maneira de liberar muito carbono na atmosfera de forma rápida", explica.

"Existe um consenso crescente de que a atividade vulcânica desempenhou papel importante nas extinções em massa, particularmente a enorme extinção do final do Permiano", afirma o paleobiólogo David Bottjer, da Universidade de Southern California em Los Angeles. "Essa descoberta - que várias rochas sedimentares aquecidas pelo magma produziram os gases necessários para causar uma tensão climática - se encaixa bem com conclusões a que estamos começando a chegar."

A descoberta também levanta a possibilidade de que o aquecimento de rochas sedimentares pelo impacto de um grande asteróide ou cometa e pela atividade vulcânica pode ter desempenhado um papel na extinção dos dinossauros.

Porém, tanto Svensen quanto Ganino são rápidos em acrescentar que essas descobertas não significam que erupções vulcânicas e extinções em massa ocorridas na mesma época estão necessariamente relacionadas.

"O potencial destrutivo parece depender das rochas sedimentárias da região", explica Svensen. É por essa razão, acrescenta, que pesquisadores precisam abordar caso a caso para avaliar o efeito das erupções no meio ambiente.

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