terça-feira, 24 de março de 2009

Cometa pode ter provocado extinção em massa de mamíferos

Nanodiamantes encontrados na América do Norte sugerem que grandes mudanças climáticas podem ter sido induzidas por eventos cósmicos avassaladores



Faixa de 40 centímetros de sedimento escuro descoberto em Murray Springs, Arizona,
pode indicar um impacto ou explosão que deu início a um período de resfriamento global
e uma extinção em massa na América do Norte.

(Scientific American Brasil) Há mais ou menos 12.900 anos, um esfriamento global de proporções gigantescas aconteceu de forma súbita, acarretando o fim de mais ou menos 35 espécies de mamíferos, incluindo o mamute, além da chamada cultura Clóvis, de norte-americanos pré-históricos. Diversas teorias foram propostas para explicar a extinção, desde mudanças climáticas abruptas, até super predação, a partir do momento em que humanos se instalaram em áreas selvagens da América do Norte. No entanto, os nano-diamantes encontrados em sedimentos deste período apontam para uma alternativa: uma enorme explosão ─ ou explosões ─ devido a um cometa fragmentário, semelhante, mas ainda maior que o do evento Tunguska, na Sibéria.

Sedimentos em seis locais na América do Norte ─ Murray Springs (Arizona); Bull Creek (Oklahoma), Gainey (Michigan), Topper (South Carolina), Lake Hind, (Manitoba) e Chobot (Alberta) ─ apresentaram diamantes tão pequenos que só poderiam ocorrer em sedimentos expostos a temperaturas e pressões extremas, como as geradas por uma explosão ou impacto, de acordo com pesquisa publicada na Science em janeiro deste ano.

Essa descoberta forneceu evidências para uma teoria proposta no ano passado de que algum tipo de impacto (ou impactos) cósmico ─ um cometa fragmentado que se incendiou ao penetrar na atmosfera ou mergulhou no oceano ─ desencadeou o período de resfriamento de mais de 1.300 anos no Hemisfério Norte, conhecido como Dryas recente por causa da abundância de pólen de uma flor alpina encontrado nesse período.

O resfriamento interrompeu um prolongado período de aquecimento pós Era do Gelo que foi previsto a partir de pequenas mudanças típicas na órbita terrestre ─ fenômeno conhecido como ciclos de Milankovitch. Esse período permanece como uma anomalia inexplicável no registro climático.

Uma série de fragmentos de cometa, explodindo sobre a América do Norte, pode ser responsável por uma camada de solo imediatamente anterior ao resfriamento contendo níveis extremamente altos de irídio – um elemento mais comum em viajantes cósmicos ─ como meteoróides ─ que na crosta terrestre. Juntando essa evidência ao fato de que essa camada ocorreu imediatamente antes da extinção de pelo menos 35 espécies de grandes mamíferos, incluindo mamutes, essa descoberta representa uma forte evidência circunstancial de um evento cósmico.

“Indicadores de fortes impactos foram encontrados em sedimentos logo acima de restos desses animais e de caçadores humanos, às vezes cobrindo-os, como no caso de Murray Springs”, observa Doug Kennett da University of Oregon, em Eugene, arqueólogo e co-autor do estudo ─ que trabalha na nova teoria do impacto. “Será que este evento foi um cometa? Será que era um condrito carbonáceo? Teria sido um objeto único ou fragmentado? A julgar pela distribuição dos diamantes, com certeza foi um evento em larga escala”.

Estudos preliminares em outros locais ─ Europa, Ásia e América do Sul – também revelaram a presença de minerais e elementos similares em sedimentos de mesma idade, comenta Kennett, e em seu próprio trabalho nas Ilhas do Canal, na costa sul da Califórnia, há um relato sobre um enorme incêndio, seguido de erosão e mudança total na flora da região.

“Esse cenário é consistente com um corpo fragmentado desintegrando-se por choques aéreos e se chocando na superfície em diversas partes da América do Norte. Os impactos podem ter ocorrido sobre camadas de gelo ou em alto mar”, ele avalia explicando porque nenhuma cratera de impacto foi encontrada até hoje. “Efeitos imediatos no solo incluem altas temperaturas e pressões que provocam grandes transformações na vegetação, derrubando árvores, e carbonizando-as”.

Isso tudo tornaria a mudança climática do Dryas recente muito similar à do super impacto do asteróide que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos. “Este foi um evento que aconteceu em apenas um dia”, lembra Kennett. "Precisamos de registros climáticos de alta resolução, registros arqueológicos e paleontológicos para tentar explorar os efeitos."

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