sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pequena Idade do Gelo causou crise europeia nos anos 1600

Estudo é o primeiro a verificar cientificamente relação de causa e efeito entre mudança climática e crise humana em larga escala


















(The New York Times/iG) Marcada por guerras, inflação, fome e diminuição da população humana, os anos 1600 ficaram conhecidos como a grande crise da Europa. Mas, enquanto historiadores têm colocado a culpa dessas tumultuadas décadas na transição entre feudalismo e capitalismo, um novo estudo aponta para outro culpado: o período conhecido como a Pequena Idade do Gelo.

A Pequena Idade do Gelo freou a produção agrícola e terminou por levar à crise europeia segundo os autores do estudo que afirmam ser este o primeiro trabalho a verificar cientificamente uma relação de causa e efeito entre uma mudança climática e uma crise humana em larga escala.

Antes da revolução industrial, todos os países europeus eram basicamente agrários, e como assinalou um dos autores da pesquisa David Zhang: “Nas sociedades agrícolas, a economia é controlada pelo clima [uma vez que ele dita as condições de crescimento”.

A equipe liderada por Zhang, da Universidade de Hong Kong, se debruçou sobre os dados da Europa e outras regiões do Hemisfério Norte entre 1500 a 1800. Eles compararam dados climáticos, como por exemplo a temperatura com tamanho da população, taxas de crescimento, guerras e também outros distúrbios sociais, como produção agrícola e fome, preços dos grãos e salários.

Os autores dizem que alguns efeitos, como escassez de alimentos e problemas de saúde, mostraram-se quase que imediatamente entre 1560 e 1660 – o período mais duro da Pequena Idade do Gelo – durante o qual o processo de crescimento das áreas cultivadas diminuiu.

Assim como a terra arável diminuiu, o mesmo aconteceu com a população europeia segundo o estudo. Os pesquisadores também constataram que no final dos anos 1500, a altura média da pessoas caiu cerca de dois centímetros, seguindo a curva de queda da temperatura, devido ao aumento da desnutrição e somente voltou a subir quando as temperaturas aumentaram depois de 1650.

Outros efeitos – como a fome, a Guerra dos 30 anos (1618-48), ou a conquista dos Manchú da China – levaram décadas para se manifestar. “A temperatura não é uma causa direta para a guerra ou para a perturbação social”, afirmou Zhang. E completou: “A causa direta para a guerra e perturbação social é o preço dos grãos. Por isso dizemos que que a mudança climática é a causa final”.

O novo estudo é uma lição de história e um alerta segundo os pesquisadores. [Conforme nosso clima muda devido ao aquecimento global] os países em desenvolvimento vão sofrer mais, por que a maior parte da população desses países depende da produção agrícola”, conclui Zhang.

A pesquisa foi publicada online pelo periódico científico Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS).

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