quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Os porquês do colapso da plataforma de gelo Larsen B

Universidade de Aveiro ajuda a desvendar


(Ciência Hoje - Portugal) Afinal não são só as correntes quentes oceânicas as culpadas pelo colapso das plataformas de gelo flutuantes. O culpado é também o aquecimento da superfície do gelo cuja água derretida se infiltra na enorme estrutura gelada, destabilizando-a até ao colapso final. A conclusão é de uma equipa internacional de investigadores dos Estados Unidos, Portugal, Itália, Alemanha, Canadá e Reino Unido que trouxeram para a luz do dia uma nova visão sobre a dinâmica das plataformas de gelo flutuante da Antárctica cuja compreensão é essencial para se perceber como vão comportar-se durante o aumento da temperatura global da atmosfera.

O estudo, que contou com a participação da Universidade de Aveiro, foi publicado este mês na revista Science e dá como exemplo a desintegração catastrófica em 2002 da plataforma de gelo flutuante Larsen B, situada ao largo da Península Antárctica, um acontecimento que a equipa provou estar associado a mudanças da temperatura atmosférica e à consequente fusão do gelo.

Baseado numa série de dados marinhos colhidos em 2005 e 2006 no local onde existiam os 3250 quilómetros quadrados de gelo da Larsen B, os cientistas financiados pela Divisão de Programas Polares da American National Science Foundation (NSF) concentraram-se a estudar nos sistemas de linha de âncora de gelo, ou seja, na zona de transição entre a calota de gelo ancorada no continente, neste caso ancorada no fiorde de Crane, e a própria plataforma flutuante. Na Science os cientistas revelam que a principal linha de ancoragem do gelo de Crane estava muito mais para o interior antes de 2002. Isto implica que o colapso nesse ano da Larsen B foi uma resposta ao aquecimento da temperatura da superfície da plataforma de gelo e não devido à instabilidade da linha de âncora de gelo causada por correntes quentes oceânicas.

Aquecimento da superfície do gelo: mais um factor a ter em conta
“Os novos resultados apoiam a ideia de que o aquecimento da superfície do gelo [devido ao aumento da temperatura atmosférica] e os seus efeitos posteriores, tais como o desenvolvimento de lagoas de fusão e fendas ou fissuras na superfície do gelo, permitem que a água mais quente se possa infiltrar para dentro do gelo para causar tal colapso”, explica Caroline Lavoie, investigadora do Departamento de Geociências e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da UA.

O estudo refuta assim a explicação, até agora partilhada entre a comunidade científica internacional, que apontava que o colapso da plataforma de gelo Larsen B se ficou a dever à instabilidade da grande linha de ancoragem do gelo que a ligava ao fiorde de Crane, causada por correntes quentes do Oceano Antártico.

A cientista da equipa que desvendou os verdadeiros motivos do colapso da Larsen B alerta que essa desintegração “mostra que as plataformas de gelo flutuantes podem mudar em escalas de tempo socialmente relevantes, sendo o aquecimento da atmosfera o principal gatilho”.

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