sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O tic-tac da bomba populacional


(Mensageiro Sideral - Folha) Um novo estudo das Nações Unidas sugere que, ao contrário do que se pensava em análises anteriores, a população mundial não vai parar de crescer neste século. Segundo as projeções, atingiremos o ano de 2100 com 9,6 bilhões a 12,3 bilhões de pessoas vivendo no planeta Terra. Hoje somos 7,2 bilhões.

É um baque para quem estava contando com resultados anteriores, que sugeriam uma possível estabilização da população mundial em meados do século. Ao que tudo indica, isso não vai acontecer. Os cientistas apresentam um grau de confiança de 80% para a atual previsão de crescimento populacional.

“Muito do aumento deve acontecer na África, em parte pela fertilidade mais alta e por uma recente redução no ritmo de declínio de fertilidade”, afirma o artigo científico assinado por Patrick Gerland, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, e seus colegas. O trabalho foi publicado online hoje pela revista científica americana “Science”.

Pelas estimativas, a população africana saltará de 1 bilhão para 4 bilhões de pessoas até 2100. Na Ásia, a população deve atingir um pico em 2050, com 5 bilhões de pessoas, e então iniciar o declínio. Nos outros continentes contabilizados (América do Norte, Europa e América Latina), todos devem ficar com menos de 1 bilhão de pessoas em 2100.

BOMBA POPULACIONAL
A história lembra o alerta lançado em 1968 por Paul Ehrlich, da Universidade Stanford, em seu livro “The Population Bomb”. Naquela época, ele sugeria que o aumento acelerado do número de pessoas levaria a uma escassez brutal de alimentos no futuro. A grande questão é que ele previa isso para a década de 1980. E não aconteceu.

O trabalho, por sua vez, foi quase uma ressurreição de uma ideia mais antiga, advogada por Thomas Malthus no fim do século 18, de que uma catástrofe populacional era inevitável, uma vez que a produção de alimentos cresceria em progressão aritmética (2+2+2…) enquanto a população avançaria em progressão geométrica (2x2x2…).

Fosse qual fosse a referência, Malthus ou Ehrlich, o recado era claro: precisamos diminuir o crescimento populacional. Cedo ou tarde, vai dar confusão. A má notícia do novo estudo é que provavelmente ainda não atingiremos isso no século 21.

PARA ONDE AGORA?
A situação é mais dramática do que um conjunto de números. É o famoso “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. Comecemos do princípio: já há mais humanos na Terra do que o planeta pode suportar, pelo menos segundo os cálculos dos ambientalistas. Costumamos esgotar os recursos terrestres alocados para um ano — se o uso fosse sustentável — em coisa de seis ou sete meses. O que significa que, uma hora, vai faltar recursos. O pesadelo de Ehrlich e Malthus não é permanentemente adiável.

Por outro lado, se reduzirmos a população (como temos feito de forma significativa), temos uma série de problemas, pois a única forma de obter isso é fazer com que nasça menos gente. Isso significa que haverá menos pessoas trabalhando e pagando sua contribuição à previdência, e portanto haverá menos dinheiro para sustentar os aposentados, que por sua vez estão vivendo cada vez mais, graças aos avanços da medicina.

Ou seja, se você levar esse raciocínio às últimas consequências, uma hora o sistema colapsa.

Qual é a solução? A longo prazo, o único jeito é expandirmos a esfera da atuação dos seres humanos. Um planeta só já não nos basta. Precisamos de outros. Pode soar meio exagerado, ou absurdo, mas por que não iniciar a colonização de Marte ainda neste século? Tem gente já propondo isso, e seria uma forma de dar vazão às limitações enfrentadas hoje na Terra.

Convenhamos: funcionou quando a Europa expandiu seus domínios para as Américas. (Claro, isso não foi bom para os nativos americanos, mas ao que parece nenhum marciano estará lá para reclamar desta vez.)

A colonização do espaço é uma ideia que pode não só ajudar a desatar o nó da bomba populacional (e, claro, não espero que seja do dia para a noite, mas ao longo de séculos; para o futuro imediato, teremos mesmo de continuar a conter o avanço da população e encarar os problemas econômicos resultantes disso, que seriam o mal menor), como também garantirá longevidade à humanidade — hoje ameaçada por ter todos os seus ovos numa mesma cesta.

Esta é uma ideia que defendo no meu livro novo, “Extraterrestres”. Mesmo que não exista vida lá fora (e a essa altura a maioria dos cientistas considera bem provável que exista), será nossa missão espalhá-la — junto conosco — pelo Universo. Tenho a convicção de que o problema não está além da capacidade humana. Agora, uma coisa é certa: adotar simplesmente a política do “crescei e multiplicai-vos” não está mais funcionando.

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