segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Terremotos no país liberaram energia de 20 bombas atômicas, diz professor

Aposentado da UnB, ele diz que registros acontecem uma vez por semana. MG lidera número de casos; João Câmara (RN) registrou maiores prejuízos.




(G1) Parece estranho para quem acredita que o Brasil está imune a esse tipo de evento, mas abaixo dos nossos pés, e em uma frequência maior do que a que estamos acostumados a ouvir, também nasce aquilo que deixa o mundo todo em polvorosa: terremotos. Ex-chefe do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília, o professor aposentado José Alberto Vivas Veloso diz que há pelo menos um tremor a cada sete dias no país e que eles nem sempre são tão inofensivos assim.

"É raro decorrer uma semana sem o registro de algum abalo sísmico no país, mas, geralmente, ele será um evento pequeno e poderá passar despercebido pelas pessoas”, disse ao G1. "Pode-se comparar o montante da energia liberada durante a ocorrência de um terremoto com uma explosão nuclear, mas apenas de forma aproximada. Assim, estimamos que todos os terremotos já registrados no Brasil liberaram energia equivalente a cerca de 20 bombas como a de Hiroshima [lançada pelos EUA no Japão durante a 2ª Guerra Mundial, matando 140 mil pessoas].”

Dados do Sistema Nacional de Registros Sísmicos apontam que Minas Gerais lidera o número de casos, com 2.599 tremores. O estado é seguido pelo Mato Grosso, que já contabilizou 1.304 terremotos, e Rio Grande do Norte, com 1.245. As medições no país começaram em 1827, com a criação do Observatório Nacional, e até agora chegam a quase 8 mil. A intensidade dos abalos é avaliada por meio da escala Richter – uma escala logarítmica de base 10, que atribui um número de 1 a 9 para quantificar a energia liberada por um sismo.

Em geral, eles começam a ser sentidos pela população quando ultrapassam os 3 pontos. Nessa faixa, já são capazes de mover mobílias e derrubar objetos de prateleiras, além de quebrar pratos e janelas e balançar sinos de igrejas. Árvores e arbustos também sofrem oscilações.

Quando atingem magnitude igual ou maior que 5, os terremotos causam trincas e conseguem derrubar construções mais frágeis. O último deles aconteceu em abril de 2008, em São Vicente (SP). O tremor, de índice 5,2 e epicentro no mar, produziu pequenas rachaduras em paredes da capital paulista e provocou o deslocamento de uma adutora em Mogi das Cruzes, deixando mais de 20 mil pessoas sem água.

"As estatísticas mostram que, para todo o Brasil, acontece um terremoto de magnitude igual ou maior a 5 a cada cinco anos, em média, e um de magnitude 7 só a cada 500 anos", explica Veloso. "Os dois maiores tremores registrados atingiram magnitudes 6,1 e 6,2 e aconteceram em 1955. Apesar de tal magnitude ser considerada moderada, um sismo deste tamanho pode produzir muito estrago dependendo de onde aconteça e das condições geológicas locais e da qualidade das construções da área atingida."

“Vivemos no meio de tanto progresso científico que é difícil explicar por que os terremotos ainda não podem ser previstos. Isso não significa que nada pode ser feito”, diz o especialista. “[No entanto] Esta previsão, chamada de longo prazo, não traz benefícios imediatos para quem está sujeito a ocorrência de grandes terremotos. Na prática, o que se quer saber é, por exemplo, onde acontecerá um grande terremoto nos próximos dois meses. Mas ninguém sabe responder isso com segurança.”

O registro mais antigo que se tem de terremoto no Brasil é de 1720, em Salvador (BA) – ele não chegou a ser mensurado por aparelhos. E, desde então, houve um único caso comprovado de morte no país por causa de abalos sísmicos: um tremor de magnitude 4,9 ocorrido em Caraíbas (MG) provocou o desabamento de casas. O madeiramento do telhado de uma delas atingiu uma menina de 5 anos, que não resistiu aos ferimentos.

Atualmente, os pesquisadores têm se dedicado a acompanhar a atividade da região de Montes Claros (MG). Somente em abril passado, foram quatro ocorrências. Os mais intensos foram sentidos no dia 6: 3,9, às 10h39, e 3,8, às 16h31.

Tremores ininterruptos
A cidade de João Câmara (RN) foi a que mais sofreu danos materiais e sociais por causa de terremotos brasileiros. A terra tremeu intermitentemente por sete anos. O maior abalo sísmico atingiu magnitude 5,1, em 30 de novembro de 1986.

"Os tremores produziram danos em 4.348 edificações, que tiveram de ser reparadas e algumas reconstruídas totalmente. Mais de 26 mil desabrigados ocasionaram problemas em cidades vizinhas e também na capital, Natal. Os prejuízos chegaram a US$ 14 milhões", explica Veloso.

Quase 25 anos depois, a cidade voltou a registrar uma sequência de tremores. Foram nove casos entre 12 e 24 de outubro de 2011, que assustaram os moradores. O mais intenso deles chegou a 2,8 na escala Richter.

Para acompanhar os abalos na área, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte ampliou o número de estações na região da falha tectônica de Samambaia, que fica na cidade. Ela é considerada a maior do Brasil.

Causas
Os tremores são geralmente causados pela movimentação das placas tectônicas – um grupo de 12 grandes blocos da crosta terrestres onde estão assentados os oceanos e continentes. O registro mais intenso aconteceu em Valdívia, no Chile, em 1960. Ele obteve 9,5 graus na escala Richter, provocando um grande tsunami que atingiu ilhas do Havaí, a dez mil quilômetros de distância.

Há ainda terremotos induzidos por atividades humanas. Falhas em projetos podem provocar abalos durante o enchimento de lagos artificiais de barragens, perfuração de minas profundas e extração de gás e petróleo.

“Na verdade, o aparecimento desses sismos é mais exceção do que regra geral. Por exemplo, das dezenas de milhares de reservatórios hidrelétricos existentes no mundo, somente alguns produziram sismos”, explica Veloso.

Medição
O Observatório Sismológico da UnB foi fundado em 1968, seguindo uma recomendação da Unesco. O objetivo era que a América do Sul tivesse aparelhos de alta sensibilidade, capazes principalmente de monitorar tremores surgidos na região andina. Atualmente, o órgão conta com 49 estações nas cinco regiões do Brasil.

O órgão conta com uma página em rede social, na qual divulga informações a respeito e também recebe relatos de suspeitas de abalos sísmicos. Coordenadora do órgão, a geóloga Mônica Von Huelson afirma que os terremotos catalogados costumam ser sentidos em um raio máximo de aproximadamente 150 quilômetros.

“Muitos assustam-se e correm para a rua. As pessoas sentem falta de segurança. Os pratos, as louças, os vidros das janelas, os copos partem-se. Objetos ornamentais e livros caem das prateleiras. Os quadros caem das paredes. As mobílias movem-se ou tombam", diz a professora.

Desde o início da medição, foi detectado apenas um abalo sísmico com epicentro no DF (veja vídeo ao lado). Ele ocorreu na manhã de 20 de novembro de 2000 e fez com que moradores de São Sebastião acordassem sobressaltados pelo estranho movimento das camas. O tremor atingiu 3,7 pontos na escala Richter.

As causas do terremoto ainda não foram esclarecidas. Segundo o ex-chefe do observatório José Alberto Vivas Veloso, a possibilidade de a origem do tremor ter sido o resultado do desabamento do teto de uma caverna subterrânea não foi descartada.
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Matéria com infográfico e vídeo aqui

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