terça-feira, 22 de abril de 2014

'Gelo de fogo' escondido em permafrost é fonte de energia do futuro?

Países como EUA, Japão e Canadá investem pesado em desenvolvimento de tecnologia de extração de hidrato de metano, recurso abundante também sob leito do mar.


(BBC/G1) O mundo é viciado em combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), e é fácil entender o por que: baratos, abundantes e fácil de extrair, eles alimentam o desenvolvimento da indústria mundial.

Cada vez mais, porém, os governos vêm buscando alternativas aos hidrocarbonetos tradicionais - seja porque são altamente poluentes ou porque sua extração tem se tornado mais difícil, à medida que algumas reservas vão se esgotando.

Um substituto potencial - em enormes quantidades - foi encontrado e repousa profundamente sob permafrost (solo gelado do Ártico) ou os leitos dos oceanos: o hidrato de metano.

Apesar de potencialmente menos poluente que petróleo e carvão, porém, sua extração apresenta enormes riscos ambientais.

Reservas gigantes
Conhecido como 'gelo que arde', o hidrato de metano consiste em cristais de gelo com gás preso em seu interior. Eles são formados a partir de uma combinação de temperaturas baixas e pressão elevada e são encontrados no limite das plataformas continentais, onde o leito marinho entra em súbito declive até chegar ao fundo do oceano.

Acredita-se que as reservas dessa substância sejam gigantescas, observa Chris Rochelle, do Serviço Geológico Britânico. A estimativa é de que haja mais energia armazenada em hidrato de metano do que na soma de todo petróleo, gás e carvão do mundo.

Ao reduzir a pressão ou elevar a temperatura, a substância simplesmente se quebra em água e metano - muito metano.

Um metro cúbico do composto libera cerca de 160 metros cúbicos de gás, o que o torna uma fonte de energia altamente intensiva. Por causa disso, da sua oferta abundante e da relativa facilidade para liberar o metano, um número grande de governos está cada vez mais animado com essa nova fonte de energia.

Desafios técnicos
O problema, porém, é extrair o hidrato de metano. Além do desafio de alcançá-lo no fundo do mar, operando sob altíssima pressão e baixa temperatura, há o risco grave de desestabilizar o leito marinho, provocando deslizamentos.

Uma ameaça ainda mais grave é o potencial escape de metano. Extrair o gás de uma área localizada não é tão complicado, mas prevenir que o hidratado se quebre e libere o metano no entorno é mais difícil.

E isso tem consequências sérias para o aquecimento global - estudos recentes sugerem que o metano é 30 vezes mais danoso que o CO2.

Por causa desses desafio técnicos, ainda não há escala comercial de produção de hidrato de metano em qualquer lugar do mundo. Mas alguns países estão chegando perto.

Os Estados Unidos, o Canadá e o Japão já investiram milhões de dólares em pesquisa e já realizam alguns testes, desde 1998. Os mais bem sucedidos ocorreram no Alasca em 2012 e na costa central do Japão em 2013, quando, pela primeira vez, houve uma exitosa extração de gás natural a partir de hidrato de metano no mar.

Os Estados Unidos lançaram um programa de pesquisa e desenvolvimento nacional já em 1982 e, em 1995, tinham terminado a sua avaliação dos recursos disponíveis do gás de hidratos no país. Desde então, têm realizado projetos-piloto na costa da Carolina do Sul, no norte do Alasca e no Golfo do México. Cinco ainda estão em execução.

Exploração comercial
O interesse do Japão é óbvio, assinala Stephen O'Rourke, da empresa de consultoria energética Wood Mackenzie: 'Japão é o maior importador de gás do mundo'.

No entanto, ele ressalta que o orçamento anual do Japão para pesquisa na área é relativamente baixo - US$ 120 milhões (cerca de R$ 270 milhões). Os planos do país de produzir em escala comercial no fim desta década, portanto, parecem muito otimista. Mas mais à frente, o potencial é enorme.

'O gás metano pode mudar o jogo para o Japão', diz Laszlo Varro, da Agência Internacional de Energia (IEA).

Em outros países, porém, os incentivos para explorar o gás comercialmente são menores por enquanto. Os Estados Unidos estão priorizando suas reservas de gás de xisto, recurso que também é abundante no Canadá. Já a Rússia ainda tem enormes reservas de gás natural.

A China e a Índia, com sua feroz demanda por energia, são uma história diferente. No entanto, eles estão muito atrás em seus esforços para explorar o recurso.

'Houve alguns progressos recentes, mas não prevemos produção comercial antes de 2030', afirma O'Rourke. De fato, a IEA não incluiu gás hidratado nas suas projeções globais de energia para os próximos 20 anos.

Riscos
Mas se essa fonte for explorada, o que parece provável no futuro, as implicações ambientais podem ser extensas.

Apesar de ser menos poluente que o carvão ou o petróleo, continua sendo um hidrocarboneto e, portanto, emite CO2. E há ainda o risco mais sério da liberação direta de metano na atmosfera.

Alguns argumentam, porém, que pode não haver alternativa, na medida em que o aumento da temperatura global pode provocar a liberação do gás 'naturalmente', devido ao aquecimento dos oceanos e ao derretimento das calotas polares.

'Se todo o metano for liberado, nós vamos ver um cenário de filme Mad Max', diz Varro. 'Mesmo usando estimativas conservadoras sobre as reservas de metano, isso faria todo o CO2 de recursos fósseis parecer uma piada', destacou.

'Por quanto tempo o gradual aquecimento global pode prosseguir sem liberar o metano? Ninguém sabe. Mas quanto mais ele avança, mais perto chegamos de jogar roleta russa', acrescentou.
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