segunda-feira, 24 de março de 2014

Segunda parte de relatório do IPCC adverte sobre futuro sombrio do clima

Painel de especialistas da ONU deve divulgar novo trecho em 31 de março. Se nada for feito para conter aquecimento, consequências serão drásticas.



(France Presse/G1) Secas, inundações, conflitos, perdas econômicas cada vez mais profundas. Este é o cenário que aguarda o planeta caso não se reduzam as emissões de dióxido de carbono (CO2), advertem cientistas da ONU em seu próximo relatório sobre o aquecimento global.

O rascunho do próximo informe do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), ao qual a AFP teve acesso, faz parte de um amplo estudo que contribuirá para determinar políticas e orientar negociações nos próximos anos.

Os cientistas e representantes dos governos se reunirão na cidade japonesa de Yokohama a partir da terça-feira para redigir um resumo de 29 páginas, que será publicado juntamente com o relatório completo em 31 de março.

"Temos uma imagem mais clara do impacto e das consequências, inclusive as consequências para a segurança", disse Chris Field, da americana Carnegie Institution, que chefia a pesquisa.

O trabalho vem a público seis meses depois do primeiro volume do V Relatório de Avaliação, no qual os cientistas deixaram claro sua certeza irrefutável de que o aquecimento global tem a mão do homem.

Primeira parte foi divulgada ano passado
No informe era previsto um aumento das temperaturas entre 0,3ºC e 4,8ºC neste século, 0,7ºC acima da média desde a Revolução Industrial. O nível dos oceanos aumentará entre 26 e 82 centímetros até 2100, segundo suas estimativas.

De acordo com o novo rascunho, os danos serão disparados a cada grau adicional, embora seja difícil quantificá-los. Um aumento nas temperaturas de 2,5ºC com relação à era pré-industrial - 0,5ºC a mais que a meta fixada pela ONU - reduzirá os ganhos mundiais anuais entre 0,2% e 2,0%, o que corresponde a centenas de bilhões de dólares.

"É certo que as avaliações que podemos fazer atualmente ainda subestimam o impacto real da mudança climática futura", disse Jacob Schewe, do Instituto Postdam para a pesquisa das Mudanças Climáticas (PIK) na Alemanha, que não participou da elaboração do rascunho do IPCC.

O relatório destaca alguns perigos:
Inundações: as emissões crescentes de gases de efeito estufa aumentarão "significativamente" o risco de inundações, às quais Europa e Ásia estarão particularmente expostas. Se confirmado o aumento extremo de temperaturas, três vezes mais pessoas ficarão expostas a inundações devastadoras.

Seca: a cada primeiro adicional na temperatura, outros 7% da população mundial terão reduzidas em um quinto as fontes de água renováveis.

Aumento do nível dos mares: se nada for feito, em 2100 "centenas de milhões" de habitantes das regiões costeiras serão levados a se deslocar. Os pequenos países insulares do leste, sudeste e sul da Ásia verão suas terras reduzidas.

Fome: os cultivos de trigo, arroz e milho perderão em média 2% por década, enquanto a demanda de cultivos aumentará 14% em 2050, devido ao aumento da população mundial. Os mais prejudicados serão os países tropicais mais pobres.

Desaparecimento de espécies: "grande parte" das espécies terrestres e de água doce correrá risco de extinção, pois as mudanças climáticas destruirão seu hábitat.

Ameaça para segurança
"As mudanças climáticas no século 21 empurrarão os Estados a novos desafios e determinarão de forma crescente as políticas de segurança nacional", adverte o esboço de resumo. Ainda assim, algumas repercussões transfronteiriças das mudanças climáticas - a redução das zonas geladas do planeta, as fontes de água compartilhadas ou a migração dos bancos de peixes - "têm o potencial de aumentar a rivalidade entre os países", diz o informe.

A redução das emissões de gases de efeito estufa 'nas próximas décadas' permitirá desativar algumas das piores consequências das mudanças climáticas até o final do século, destacou o informe.

Em 13 de abril, o IPCC divulgará, em Berlim, seu terceiro volume sobre estratégias para fazer frente às emissões de gases de efeito estufa.

Em seus 25 anos de História, o IPCC publicou quatro "'relatórios de avaliação", e cada um fez um alerta sobre as gigatoneladas de dióxido de carbono emitidas pelo tráfego, as centrais energéticas e os combustíveis de origem fóssil, assim como o metano, gerado pelo desmatamento e pela pecuária.

O volume de Yokohama vai além dos anteriores, ao oferecer em detalhes o impacto regional das mudanças climáticas, assim como os riscos de conflito e o aumento do nível dos mares.

O último grande relatório publicado do IPCC, de 2007, contribuiu para criar um momento político propício que levou à convocação da cúpula do clima de Copenhague de 2009, mas sua reputação foi abalada por alguns erros que os céticos aproveitaram para demonstrar a existência de uma visão tendenciosa sobre esta ameaça.
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Matéria com infográfico aqui
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