sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Uma resposta para o paradoxo da Antártica


(O Globo) Nos últimos anos, uma série de estudos indicou que as regiões polares do planeta são as que mais estão sofrendo com o aquecimento global. Mas enquanto o Ártico dá sinais claros disso, com sucessivas quedas na área de cobertura do gelo oceânico nos verões no Hemisfério Norte, do outro lado da Terra eles são contraditórios: na Península Antártica e nos mares próximos (Amundsen, Bellingshausen e Weddell), no Noroeste do continente, a extensão do gelo tem caído, mas no Mar de Ross, a Leste, ela vem crescendo, o que faz com que, em média, esta cobertura tenha se mantido e até aumentado levemente nas últimas décadas. Agora, porém, os cientistas podem ter encontrado uma explicação para este paradoxo da Antártica, e a responsável seria a oscilação na temperatura de superfície da água do Oceano Atlântico.

Influência tinha sido negligenciada
Há algum tempo os cientistas já sabem que o clima na Antártica é influenciado pelas variações na temperatura do Pacífico, notadamente por fenômenos de menor duração, como o El Niño e a La Niña, respectivamente, o aquecimento e resfriamento das águas do oceano. Até agora, no entanto, a influência das oscilações de temperatura do Atlântico Norte e Tropical, de mais longa duração, tinha sido negligenciada. E foi para preencher esta lacuna que Xichen Li e colegas da Universidade de Nova York analisaram mais de três décadas de dados da temperatura de superfície do Atlântico e sua relação com o clima no continente gelado.

— Nossas descobertas revelam uma anteriormente desconhecida, e surpreendente, força por trás das mudanças climáticas que estão acontecendo nas profundezas do Hemisfério Sul: o Oceano Atlântico — diz Li, principal autor de artigo sobre o estudo, publicado na edição desta semana da revista “Nature”. — Além disso, nosso estudo oferece mais uma confirmação de que o aquecimento em uma região pode ter efeitos de longo alcance em outra região.

Segundo os pesquisadores da Universidade de Nova York, o aquecimento gradual da água do oceano, expresso pela chamada “Oscilação Multidecadal do Atlântico” (AMO, na sigla em inglês), está levando as mudanças climáticas para a Antártica. No estudo, eles afirmam ter encontrado fortes correlações ente a AMO e o clima no continente gelado. Entre os achados, por exemplo, está o fato de que o aquecimento das águas do Atlântico costuma ser precedido por uma redistribuição da cobertura de gelo entre o Mar de Ross e o trio Amundsen-Bellingshausen-Weddell e seguido por alterações na pressão atmosférica sobre o Mar de Amundsen.

Modelos computacionais de última geração
Mas para apontar o Atlântico como responsável pelo paradoxo da Antártica os pesquisadores tiveram que ir além, já que uma correlação significa apenas que dois fenômenos parecem acontecer em conjunto, não fornecendo uma explicação do que os estaria causando. Para tanto, eles uniram os dados observacionais com modelos computacionais da circulação atmosférica global. Com isso, eles puderam simular um aquecimento do Atlântico Norte que foi seguido, como esperado, por uma mudança no clima da Antártica.
— Embora nossa análise dos dados tenha mostrado a correlação, foi o uso de modelos de computador de última geração que nos permitiu observar que era o aquecimento do Atlântico Norte que estava provocando as mudanças climáticas na Antártica, e não vice-versa — conta David Holland, professor da Universidade de Nova York e coautor do estudo na “Nature”. — A partir deste estudo, estamos aprendendo sobre como o gelo oceânico da Antártica se redistribui e também descobrindo que os mecanismos que controlam a cobertura de gelo na Antártica são completamente distintos daqueles no Ártico.

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