sexta-feira, 18 de outubro de 2013

A última grande alta do Atlântico



(Pesquisa Fapesp) Ao passar pela região da atual Porto Seguro, sul da Bahia, a bordo da nau capitânia comandada por Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha se espantou com o tamanho do litoral da ilha de Vera Cruz, primeiro nome dado ao Brasil recém-descoberto, e registrou também a presença de vistosas escarpas na praia, quase lambendo o Atlântico: “[Esta terra] Traz ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas e delas brancas, e a terra, por cima, toda chã e muito cheia de grandes arvoredos”. O escrivão português mirava um trecho do que hoje se denomina Formação Barreiras, constituída por camadas de areia e argila geralmente de algumas dezenas de metros de espessura que se estende por mais de 5 mil quilômetros ao longo da costa nacional, do Amapá até o Rio de Janeiro.

Para os geólogos, essas falésias, que fazem parte da primeira unidade geológica descrita no país, contam uma história muito mais antiga do que a saga do descobrimento. São testemunhas da última grande elevação do nível do Atlântico registrada em trechos da costa brasileira, especificamente no Norte e Nordeste, entre 25 e 16 milhões de anos atrás, final da época chamada Oligoceno e meio do Mioceno. Grande parte dessas falésias se formou pela ação de correntes de maré ao longo da costa que arrastaram sedimentos continente adentro devido a esse aumento significativo do nível do mar. Segundo alguns estudos, os oceanos, durante o Mioceno, teriam subido até 180 metros em certos pontos do planeta em relação ao seu nível atual. No Brasil, a elevação média foi mais modesta, geralmente da ordem de 60 metros, com picos de até 140 metros na costa de Sergipe e Alagoas, de acordo com um amplo estudo sobre a Formação Barreiras publicado na edição de agosto da revista científica Earth-Science Reviews

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