sexta-feira, 2 de março de 2012

Mudança do clima pode tornar cume do Everest impossível de alcançar

Alerta foi feito por Apa Sherpa, nepalês que escalou o monte mais vezes

(O Globo) Chegar ao topo do mundo se tornou mais difícil e letal. O Everest, a mais alta montanha da Terra, mudou, alerta o homem que o escalou mais vezes, o nepalês Apa Sherpa. Neve e gelo estão em retração na montanha. Parece uma boa notícia, já que haveria menos fendas escondidas sob a neve, e menos obstáculos. Na verdade, é o contrário. Imensas rochas amalgamadas por gelo secular estão soltas e avalanches se multiplicaram. Também é imensamente mais difícil vencer em grande altitude encostas íngremes de rocha nua e escorregadia. Dentro de poucos anos, o Everest pode se tornar impossível de escalar. O chamado terceiro polo do mundo, o lugar mais próximo do céu que o ser humano é capaz de chegar com as próprias pernas, pode se fechar à Humanidade e se tornar o maior símbolo das mudanças climáticas globais.

Aos 51 anos, Apa Sherpa detém o recorde de ter chegado ao cume do Everest 21 vezes, um feito sobre-humano, que ele agora espera superar na mais ousada caminhada já realizada, a travessia dos Himalaias, entre passagens glaciais traiçoeiras, fendas geladas, altitudes quase sempre superiores a 6 mil metros e terrenos acidentados. A travessia de 1.700 quilômetros faz parte de uma campanha chamar a atenção sobre as mudanças climáticas.

Satélite vai tirar dúvida sobre medida do Everest
Nos últimos anos, montanhistas têm alertado para mudanças não apenas no Everest quanto em boa parte dos Himalaias. Os sherpas, povo nepalês de origem étnica tibetana, têm elevado o tom do alarme. Com o organismo excepcionalmente bem adaptado à grande altitude, eles são os senhores dos Himalaias, a quem a maioria dos escaladores recorre como guia ou carregadores na altitude.

Os sherpas dependem do montanhismo para viver. E o que eles veem nos cumes, cientistas traduzem em dados: nos últimos 30 anos as geleiras do Nepal encolheram 21%. As medições são do Centro Internacional para o Desenvolvimento das Montanhas (Icimod, na sigla em inglês), sediado na capital nepalesa, Katmandu. A perda de gelo se acelerou a partir de 2002 e foi particularmente intensa até 2005.

Cerca de 1,3 bilhão de pessoas dependem diretamente da água das geleiras dos Himalaias para sobreviver. Rios como o Indo nascem da água que a cada verão desce das montanhas.

Inicialmente, o degelo acelerado aumenta a oferta de água. Mas quando a geleira definha ou se esgota, a água acaba. Vem das geleiras dos Himalaias a água para a agricultura e a energia de uma das regiões mais povoadas do mundo. Uma série de estudos recentes como o Icimod tem mostrado que o degelo é real. O fenômeno é visível. Onde havia o branco do gelo e da neve agora há o cinza das rochas nuas.

— Em 1989, quando escalei o Everest pela primeira vez, havia muita neve e gelo, mas agora há principalmente rocha nua. Como resultado, ocorrem mais deslizamentos de rochas, muito perigosos para escaladores — disse Apa Sherpa à agência de notícias AFO. — Não sei o que o futuro nos reserva. Mas pela minha experiência pessoal posso dizer que o Everest pode se tornar impossível de escalar em alguns anos. As coisas mudaram muito.

Ele tem visto de perto o impacto das mudanças climáticas durante sua caminhada de 120 dias, batizada de Climate Smart Celebrity Trek, prevista para terminar em 13 de maio.

Apa percorre o Grande Caminho do Himalaia, aberto ano passado pelo Nepal, na companhia de outro soberbo escalador, Dawa Steven Sherpa. Essa é a primeira expedição oficial a cruzar a rota, por muitos anos fechada devido a conflitos internos e disputas territoriais.
----

Nenhum comentário:

Postar um comentário