Quase todas as medidas necessárias para isso, dizem os cientistas, teriam seus custos compensados ao evitar gastos em saúde pública e na agricultura.
Segundo o trabalho, publicado na revista "Science", se o planeta adotar 14 medidas contra essas substâncias (leia mais abaixo), combateria a mudança climática, evitaria mortes por doenças respiratórias e aumentaria a produtividade agrícola.
O documento inclui propostas que vão desde a substituição de fornos a carvão --grande fonte de poluição em países pobres-- até o controle do vazamento de metano em poços de petróleo.
Combater a emissão desse gás, que também é subproduto da agropecuária, ajudaria os próprios produtores rurais, porque o metano estimula o surgimento de ozônio em baixas altitudes, prejudicando a respiração das plantas.
A produção mundial de alimentos teria um incremento de 30 milhões a 130 milhões de toneladas se o ozônio derivado da poluição fosse reduzido indiretamente por meio do combate ao metano.
"As colheitas seriam o fator do qual países como o Brasil mais se beneficiariam", disse à Folha Drew Shindell, do Instituto Goddard, da Nasa, que liderou o trabalho.
"Em países como China e Índia, o principal benefício seria na saúde pública, porque o problema de poluição por fuligem é muito maior lá."
DIPLOMACIA
Segundo Shindell, como a maior parte dos países que tendem a se beneficiar são também grandes emissores de fuligem e metano, uma política eficaz não iria requerer um acordo internacional como aquele que o planeta está buscando contra o CO2 (dióxido de carbono), principal vilão do aquecimento global.
"No caso do combate a essas outras substâncias, temos mais chance de progresso se ele for implementado por ações locais", diz o cientista.
"Iniciativas globais, porém, podem estimular ações locais, como o financiamento de bancos de desenvolvimento para alguns projetos."
Mesmo não tendo potencial de aquecimento no longo prazo, a fuligem contribui para a mudança climática, sobretudo quando se acumula sobre a neve e o gelo em regiões frias. De cor escura, ela atrapalha a capacidade da água congelada de refletir radiação para fora da Terra.
Já o metano é o gás-estufa mais forte, apesar de não ser o mais abundante.
O combate a esses dois poluentes, porém, não serviria como compensação para o atraso do planeta em reduzir as emissões de carbono.
"Se adiarmos mais o acordo do clima, mesmo acabando com todo o metano e a fuligem, veríamos um enorme aumento no aquecimento, causado só pelo CO2, na segunda metade do século."
CONTRA O METANO
1. Estender técnicas que evitam o vazamento de gás em minas de carvão
2. Eliminar as perdas e queimar o gás que hoje escapa de poços de petróleo
3. Reduzir vazamentos em gasodutos
4. Separar o lixo biodegradável para reciclagem, compostagem e uso da biomassa
5. Aprimorar o tratamento de esgoto para capturar o metano que escapa das estações
6. Controlar emissões da pecuária usando um tratamento especial para o esterco
7. Arejar as plantações de arroz para reduzir as emissões em plataformas alagadas
CONTRA A FULIGEM
1. Substituir a frota de veículos muito antigos que emitem poluição demais
2. Instalar filtros especiais nos veículos a diesel
3. Banir a queima de resíduos de agricultura ao ar livre
4. Substituir fornos a lenha por fornos a gás ou combustíveis de queima limpa
5. Levar aos países pobres a tecnologia de fornos por queima de biogás
6. Substituir tijolos de barro por vigas verticais ou por tijolos de fornos mais eficientes
7. Substituir fornos a queima de coque (subproduto do carvão) por fornos mais eficientes
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