sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Cientistas dão mais um passo para decifrar a Falha de San Andreas
























(Correio Braziliense) A maioria dos moradores da ensolarada Califórnia, nos Estados Unidos, sabe que qualquer dia poderá acontecer o The Big One, um megaterremoto que vai deixar um rastro gigantesco de destruição na segunda maior megalópole dos EUA, a San-San (entre San Diego e San Francisco), onde vivem aproximadamente 30 milhões de pessoas. Isso deve acontecer porque na região existe a Falha de San Andreas, uma zona de tensão geológica de aproximadamente 1,3 mil km responsável pelos frequentes terremotos e que, mais cedo ou mais tarde, deve provocar um tremor com mais violência do que nunca. Cientistas de todo o mundo tentam entender esse complexo sistema para, quem sabe, prever quando esse desastre anunciado irá acontecer.

Uma pesquisa publicada na edição de hoje da revista científica Nature afirma ter entendido pelo menos mais uma fração do gigantesco sistemas de forças que formam San Andreas. Segundo pesquisadores alemães e norte-americanos, as águas do Oceano Pacífico, que banha a região, influenciam diretamente o comportamento das rochas, mesmo nas zonas mais profundas do planeta. Onde a água consegue penetrar as falhas, a pressão fica mais leve e há menos movimentação. Para quem vive na superfície, essa dinâmica tem um resultado: menos terremotos.

Em entrevista ao Correio, o pesquisador do Centro Alemão de Pesquisa em Geociências (GFZ, na sigla em alemão) Michael Becken explicou que os cientistas já supunham que a água tinha alguma relação com as diferenças de sensibilidade na falha geológica, mas essas suspeitas nunca tinham sido confirmadas. “Há décadas se imagina que a água pode enfraquecer o sistema de falhas, e nós conseguimos, pela primeira vez, traçar um mapa de onde a água vem e quais caminhos ela encontra na crosta”, explicou. “A implicação mais importante desse mapa é que as mudanças no comportamento sísmico ao longo da falha de San Andreas parecem estar relacionadas com as mudanças profundas no sistema hidráulico”, completa.

Ele explica que, portanto, o nível de sensibilidade de San Andreas depende, dentre outros fatores, da quantidade de água que consegue penetrar nas regiões mais profundas da crosta terrestre. A água força uma espécie de erosão no sistema de rochas. A medida que as placas tectônicas vão se movimentando as regiões com água atuam como uma espécie de zona de alívio, ajudando a pressão a diminuir e fazendo-a dissipar-se aos poucos. Já nos locais onde não há água, ocorre uma acumulação de energia. Quando o sistema não suporta mais e essa reserva energética é liberada — toda de uma vez — ocorrem os terremotos.

Medição complexa
Como não é possível verificar com exatidão a quantidade de água em camadas tão profundas da crosta terrestre, os geofísicos utilizaram instrumentos para calcular, da superfície, a quantidade de líquido. Para conseguir esse feito, os pesquisadores usaram um método conhecido como magnetotelúrico, um tipo de leitura magnética da Terra. “Essa técnica mede o efeito da indução eletromagnética no subsolo, causada por variações naturais do campo magnético externo”, conta Becken. Esse campo é proveniente dos ventos solares e age em todo o planeta. “Como a água salgada é altamente condutora de eletricidade, onde há água os medidores detectaram uma atividade magnética maior”, explica.

Assim, a partir das milhares de medições nos mais de 1,3 mil km por onde se estende a falha os pesquisadores foram montando pouco a pouco um gigantesco quebra-cabeças. “O magnetotelúrico é um método geofísico sensível a pequenos volumes de fluidos dentro de espaços porosos nas rochas. Semelhante ao de imagens médicas, nós obtivemos de cortes transversais da Terra”, explicou ao Correio o pesquisador Paul Bedrosian, do Centro de Monitoramento Geológico dos Estados Unidos (Usgs, na sigla em inglês), entidade mantida pelo governo norte-americano que acompanha os movimentos geológicos de toda a Terra. “Essas imagens de cortes transversais foram o que nos permitiu inferir a presença de fluidos dentro da crosta e no manto superior”, completa o especialista.

O mapa criado pelos cientistas será mais uma ferramenta que servirá para o monitoramento das áreas de maior risco de terremoto. Seja a região do temido The Big One ou outras abaladas frequentemente por tremores, todas as áreas que sofrem com esse tipo de problema devem se beneficiar do estudo publicado hoje. “A falha de San Andreas é a mais estudada do planeta, e, portanto, desempenha um papel fundamental na compreensão do complexo processo que envolve as outras falhass geológicas da Terra”, afirma Bedrosian.
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Matéria com infográfico aqui

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