quinta-feira, 21 de abril de 2011

Fuligem pode ser peça-chave para o aquecimento do Ártico

Temperatura da superfície do ar no Ártico tem aumentado cerca de duas vezes mais rápido que a média global ao longo dos últimos



(AP / iG) Uma equipe internacional de pesquisadores está no Ártico em busca de fuligem. Os cientistas acreditam que uma fina camada de fuligem, quase invisível, está fazendo com que o gelo do Ártico absorva mais calor. Eles querem descobrir se esse é o principal motivo para o rápido aquecimento da região, algo que poderá ter, no longo prazo, impacto sobre o clima mundial.

A fuligem é produzida por motores de automóveis e caminhões, emissões de aeronaves, queima de florestas e a utilização de fogões a lenha ou a carvão.

“O Ártico serve como um ar condicionado do planeta”, disse Patricia Quinn pesquisadora da Administração Nacional de Atmosfera e Oceano (NOAA, da sigla em inglês). O calor de outras partes da Terra se move para o Ártico por meio da circulação atmosférica e dos oceanos. Parte deste calor é irradiado para o espaço. Ao mesmo tempo, parte do calor vindo do Sol, que tende a ser absorvida em outros locais, é refletida pelo gelo e pela neve, o que permite que regiões polares sirvam como agentes de refrigeração para o planeta.

Mudanças
Nos últimos anos, o Ártico tem se aquecido mais rapidamente que outras regiões. Patrícia aponta que “o aquecimento do Ártico tem implicação não só para ursos polares, mas também para todo o planeta”. O corte de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa é a espinha dorsal de qualquer esforço para combater o aquecimento, tanto globalmente quanto no Ártico, disse Quinn.

Estudos indicam, no entanto, que a diminuição da concentração de poluentes como a fuligem vai reduzir a taxa de aquecimento no Ártico mais rápido que cortes de dióxido de carbono e outros gases causadores do efeito estufa, que duram muito mais tempo na atmosfera. "Esta seria uma forma de ganhar tempo", disse.

Em fevereiro, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas pediu o corte das emissões de fuligem, entre outras razões por ameaçar a saúde humana e pelo aquecimento causado nas regiões polares.

O Conselho do Ártico, que conta com representantes dos oito países que fazem fronteira com a região, está decidindo como garantir que outras nações reduzam a emissão de fuligem e vai usar dados do projeto internacional em suas deliberações.

Várias frentes
Os cientistas vão rastrear o movimento de carbono através da atmosfera, do seu depósito nas superfícies de neve e gelo, e seu efeito sobre o aquecimento no Ártico. Duas aeronaves não tripuladas da NOAA vão coletar aerossóis de fuligem no ar, e uma embarcação norueguesa irá estudar a reflexão da superfície. Os pesquisadores também vão recolher amostras de neve e enviar balões para estudar a química da atmosfera.

A fuligem aquece a atmosfera, pois absorve o calor do Sol. E embora possa não ser visível como uma cicatriz escura sobre a neve, mesmo um pouco de fuligem pode significar que menos energia é refletida.

Tim Bates, que também trabalha na NOAA, comparou o processo ao ato de vestir uma camisa preta em um dia ensolarado. "Se quiser se refrescar, o ideal é usar uma camisa de cor clara, que reflete o calor do sol", disse. Quando o carbono cobre a neve ou o gelo, a radiação é absorvida ao invés de ser refletida.

A temperatura da superfície do ar no Ártico tem aumentado cerca de duas vezes mais rápido que a média global ao longo dos últimos 100 anos. "Nos últimos 50 anos, a a média anual de temperatura tem aumentado de 2 a 3 graus Celsius no Alasca e na Sibéria, enquanto que a média anual do planeta aumentou cerca de 0,7 grau Celsius neste mesmo período”, disse Patrícia.

O aquecimento do Ártico vem resultando no adiantamento da primavera, uma maior temporada de derretimento e na diminuição das extensões de gelo, disse a pesquisadora. Isto causa preocupação a respeito dos ursos polares, que dependem do gelo para caçar.

O problema do aquecimento é agravado porque, quando a neve e o gelo, que são altamente reflexivos, derretem, as superfícies escuras da terra e do mar que estavam abaixo passam a absorver calor, intensificando desta forma o aquecimento da atmosfera.

Jack Dibb, um químico atmosférico da Universidade de New Hampshire, acredita que o maior efeito da fuligem no Ártico seja o aquecimento causado pelas partículas em suspensão na atmosfera. Elas também reduzem o poder de reflexão do gelo e da neve o suficiente para causar o aquecimento.

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