quarta-feira, 13 de abril de 2011

Artigo científico critica atitude dos sismólogos japoneses

Texto publicado na revista Nature afirma que especialistas do Japão fazem previsões de terremotos baseados em método errado

(AFP / iG) Governo e sismólogos japoneses deverão admitir que os terremotos não são previsíveis em longo prazo, em vez de defenderem ideias que os cegaram antes do violento tremor seguido de tsunami de 11 de março, acusa um artigo publicado nesta quarta-feira (13) pela revista científica Nature.

O sismólogo americano Robert Geller, professor da Universidade de Tóquio, lamenta que os cientistas do governo japonês tenham se fixado no risco de forte terremoto na costa do Pacífico sul do Japão, o que, segundo ele, impediu que percebessem os riscos para o nordeste, onde foi registrado o terremoto de magnitude 9 no dia 11 de março deste ano.

Ele critica a crença, defendida durante décadas, segundo a qual o Japão corria o risco de sofrer um enorme sismo na costa sul. Os mapas de riscos de "zonas sísmicas" de Tokai, Tonankai e Nankai são amplamente apresentados durante as campanhas públicas.

Baseados em teorias datando dos anos 1960 e 1970, "elas induzem o público ao erro levando a crer que, inexoravelmente, chega a hora de um tremor de magnitude 8 que atingirá o distrito de Tokai em um futuro próximo", indica Robert Geller.

Nenhum terremoto grave foi registrado nessas três regiões depois de 1975. Pelo contrário, terremotos que deixaram pelo menos dez mortos no Japão ocorreram em locais onde a probabilidade de um sismo era pequena, argumenta.

Se os cientistas tivessem mergulhado em dados históricos mostrando que tsunamis tinham atingido em várias ocasiões o nordeste do Japão durante séculos, o terremoto de 11 de março "poderia ter sido facilmente 'previsto' de forma geral", sem se saber a hora, nem o epicentro, considera Geller.

E isso poderia ter sido levado em conta na concepção inicial da central nuclear de Fukushima Daiichi, acrescenta, pedindo a revogação da lei de 1978 sobre as medidas a serem adotadas contra o forte terremoto (LECA), que se baseia no risco na região de Tokai.

"É o momento de dizer francamente ao público que os terremotos não podem ser previstos, de abandonar o sistema de previsão Tokai e de revogar a LECA", disse. "Todo o Japão está em risco de terremoto, e a situação atual da sismologia não permite fazer de forma confiável a distinção entre os níveis de riscos de zonas geográficas particulares".

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