(O Globo) A Marinha dos Estados Unidos deve se preparar para enfrentar um novo e poderoso inimigo: as mudanças climáticas. A conclusão é de estudo encomendado pelos militares ao Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA em 2009 e cujos resultados foram divulgados nesta quinta-feira. Entre os principais desafios apontados estão alterações estratégicas no teatro de operações do Ártico causadas pelo derretimento da cobertura de gelo da região e a preparação das bases em áreas costeiras para o aumento do nível do mar.
Enquanto no Congresso dos EUA a ciência em torno do aquecimento global ainda é alvo de discussão, entre os militares americanos as mudanças climáticas já são consideradas um fator importante para a segurança do país, como admitem no Relatório Quadrienal de Defesa publicado no ano passado. Em 2007, a chamada Passagem Noroeste, faixa do oceano ao longo do Canadá e Alasca, foi aberta pela primeira vez devido ao recuo do gelo do Ártico. A expectativa é de que esta passagem se torne navegável, ainda que perigosa, até 2030. Isso deverá abrir a região para a navegação, turismo e exploração de recursos naturais e as fronteiras marítimas que a cercam já são objeto de disputa.
- A possibilidade de conflito é baixa, mas real - disse à revista "New Scientist" Antonio Busalacchi, um dos presidentes do painel do Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA e professor da Universidade de Maryland.
Assim, a presença da Marinha ou da Guarda Costeira americanas será necessária para apoiar os interesses do país e proteger os cidadãos na área. Apesar disso, os EUA praticamente ignoraram o inóspito Ártico nos 20 anos que se seguiram ao fim da Guerra Fria.
- Como nação, perdemos nossa experiência e vantagem para lutar em regiões frias - comentou Busalacchi.
Equipamentos e treinamentos especiais são necessários para operações no Ártico. As comunicações, por exemplo, pioram à medida em que se avança ao norte do Círculo Polar Ártico, pois a área está fora do alcance dos satélites em órbita geoestacionária usados pela Marinha. Os EUA também só contam atualmente com três navios quebra-gelo, sendo que dois deles estão em operação há mais de 30 anos. Das quatro outras nações que têm territórios no Ártico, a Rússia possui 18 quebra-gelos; a Finlândia e a Suécia, sete cada; e o Canadá, seis. Para enfrentar esses problemas, o Conselho recomenda a Marinha a fazer parcerias com outras nações com atuação no Ártico e a desenvolver novas técnicas de navegação e comunicação.
Já a expectativa de aumento no nível do mar pode ameaçar diretamente as instalações da Marinha, a maioria, claro, localizada em áreas costeiras. Levantamento do relatório quadrienal revelou que 56 das 103 bases da Marinha que responderam à pesquisa estão vulneráveis a um aumento de um metro no nível do mar, que é considerado provável até o fim deste século. Essas instalações estão avaliadas em cerca de US$ 100 bilhões e o Conselho recomenda a Marinha a identificar quais estão sob maior risco de inundações provocadas por tempestades e subida do nível do mar, além de tomar medidas para defendê-las e criar modelos para prever futuros riscos.
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