De acordo com especialista, terremoto de 2010 pode ter contribuído para tensão na área, aumentando as chances de outro maior ainda
(The New York Times / iG) Quando um terremoto de magnitude 8.8 atingiu a costa do Chile, em fevereiro de 2010, geofísicos e sismólogos não se surpreenderam. O epicentro do tremor foi num trecho de aproximadamente 200 milhas de uma falha onde tem se acumulado uma tensão há quase dois séculos. Especialistas esperavam que um dia a tensão seria aliviada num evento cataclísmico.
Porém, à medida que os cientistas se debruçavam sobre volumes de dados do que pode se tornar o maior terremoto jamais estudado, eles concluíram que o movimento durante o terremoto não aliviou a tensão, como previsto. A maior falha sísmica estava fora do segmento de 200 milhas, conhecida como abertura de Darwin desde que Charles Darwin testemunhou o último terremoto ao longo dela, em 1835.
"O padrão de falha era diferente do que esperávamos", disse Stefano Lorito, geofísico do Instituto Nacional de Geofísica e Estudo de Vulcões de Roma.
Embora houvesse uma área de deslize ao sul do epicentro que estava dentro da abertura de Darwin, ele disse, a área de maior movimentação foi ao norte da abertura, numa área onde ocorreu um terremoto de magnitude 8.0 em 1928.
Lorito disse que as descobertas mostram que "há uma fração da abertura que provavelmente não rompeu". Além disso, ele afirmou que o terremoto de 2010 pode ter contribuído para a tensão na área que não foi rompida, aumentando as chances de outro grande terremoto, embora ele possivelmente não seja tão forte quanto o do ano passado.
Lorito é o principal autor de um artigo publicado no mês passado na "Nature Geoscience", descrevendo os padrões de deslize, com base em análises de observações de tsunamis e dados de deformação de terra de GPS e sensores baseados em satélite.
No entanto, seu estudo está longe de ser a última palavra sobre o terremoto no Chile. Numa recente reunião do Sindicato Americano de Geofísica, foi apresentada cerca de uma dúzia de padrões de deslize, de acordo com Onno Oncken, geofísico do Centro Alemão de Pesquisas em Geociências, em Potsdam.
O próprio Oncken é autor de um estudo publicado na "Nature", em setembro, que mostrou um padrão diferente. Seu estudo analisou apenas dados sísmicos _ registros de ondas de choque, que não mostram como a terra foi deformada _ do evento. Ele afirmou que não era inesperado que os padrões mudassem quando o GOS e outros dados eram analisados.
"Não surpreende a ninguém neste estágio inicial da avaliação de dados", disse Oncken. "Estamos aprendendo cada vez mais na prática, diariamente".
"Espero que este seja o terremoto mais bem observado que já tivemos", ele acrescentou.
Porém, quanto à sugestão de Lorito de que o evento de 2010 possa ter aumentado as chances de outro terremoto, Oncken expressou cautela, afirmando que há relativamente poucos pontos de dados na área onde um novo terremoto está previsto para acontecer.
"Pessoalmente, não ousaria fazer uma declaração tão forte", ele disse.
O tremor, que matou mais de 500 pessoas, ocorreu numa zona de subducção, onde uma placa tectônica se desliza sob a outra. Neste caso, a placa Nazca se desliza para o leste sob a placa Sul Americana a uma velocidade de cerca de 7,6cm por ano. O movimento faz com que as tensões se acumulem nas bordas da placa. No terremoto de 2010, essas tensões foram aliviadas quando a borda ocidental da placa Sul Americana de repente se moveu para oeste e para cima. Como grande parte do movimento foi sob as águas, o tremor gerou um tsunami, responsável por muitas mortes.
Jian Lin, geofísico do Instituto Oceanográfico Woods Hole, também está estudando o terremoto, embora sua análise esteja mais focada na acumulação da tensão antes do terremoto do que em sua liberação.
Lin afirmou que, embora os vários padrões de deslize apresentados até agora sejam tão diferentes, os pesquisadores geralmente concordam que ele ocorreu em dois "pedaços", um ao norte do epicentro, outro ao sul. Embora o terremoto tenha iniciado no epicentro, grande parte da ruptura ocorreu em outro local.
"O trecho sul preencheu, sim, uma parte da abertura Darwin", ele disse. "É onde os modelos divergem _ alguns modelos têm mais falhas na parte sul, alguns têm menos. Mas acredito que, com todos os modelos, parte da abertura Darwin permanece".
Embora o terremoto do Chile seja bastante estudado, Lin argumentou que as discrepâncias nos padrões de falhas entre os vários grupos de pesquisa demonstraram que não há, ainda, dados suficientes.
"Grande parte do terremoto ocorreu sob as águas. Lá, não temos instrumentos", ele disse.
"Agora que sabemos que esta parte ainda pode se romper, é hora de colocar instrumentos no oceano, o mais rápido possível", disse Lin.
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