(Correio Braziliense) Com o objetivo de reduzir as perdas humanas, a ciência pode assumir posição de destaque na busca para entender cada vez melhor as manifestações do meio ambiente. O engenheiro hidráulico e pesquisador Wilson Fernandes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), desenvolveu uma pesquisa para calcular a probabilidade de inundações em áreas de risco e, assim, permitir que autoridades possam alertar moradores sobre as características dos locais onde vivem. Se ocorresse na prática, seria uma forma de evitar tragédias como a da região serrana do Rio de Janeiro, ocorrida no mês passado e com consequências ainda visíveis, e problemas que assolam também Minas Gerais, São Paulo e o Sul do país.
“A natureza fornece muitas pistas para entendermos como seus componentes funcionam. Podemos calcular chances de certas áreas sofrerem inundações a partir de várias marcas que ficam com o tempo. Durante as cheias, por exemplo, a água deixa sinais nas árvores, o que evidencia a dimensão da cheia em períodos anteriores. O desabamento de encostas também pode ser analisado, com a descoberta de sedimentos que foram transportados pelas águas. Dessa forma, é possível combinarmos os trabalhos de botânica, geologia e engenharia para entender como o meio ambiente funciona e, assim, chegar até probabilidades mais concretas e confiáveis”, explica Wilson.
O mapeamento das áreas de risco e a definição de cada curso de água podem ajudar no trabalho das defesas civis na prevenção de tragédias. Municípios com maior tendência de sofrer com as enchentes e deslizes de terras, quando avisados das fortes chuvas, podem se organizar e retirar os moradores que correm risco de morte.
“Os dados de vazão dos rios permitem cálculos precisos sobre até que ponto ele pode chegar, mas é fundamental que o monitoramento seja feito por períodos longos. São 20, 30 anos colhendo estatísticas para alcançar probabilidades cada vez mais exatas. Somando às análises mais convencionais outras fontes de dados, o trabalho fica cada vez mais preciso”, diz o pesquisador.
Por outro lado, o estudo mineiro apontou uma dificuldade maior para a prevenção de problemas com enchentes em áreas urbanas, onde as evidências deixadas pelas inundações e desabamentos não ficam muito tempo sem ser modificadas. “Nas grandes cidades, a ocupação desordenada acaba descaracterizando o uso do solo. É menos viável perceber os sinais da natureza nos locais onde ela foi muito transformada, os cursos dos rios são alterados e até a absorção é diferente”, acrescenta.
Atraso brasileiro
As recorrentes tragédias em território brasileiro que resultam em milhares de vítimas tornam esse tipo de estudo obrigatório para os centros de pesquisas de países que convivem com a questão. Mas, na prática, a realidade é outra, e o Brasil continua atrasado nas tecnologias que lidam com os desastres ambientais. Prova disso é o despreparo para lidar tanto com a prevenção como com a tragédia em si, quando ela ocorre.
“Infelizmente, ainda estamos dando os primeiros passos nesse tipo de estudo. Durante as pesquisas nos Estados Unidos e na Espanha, conseguimos dados expressivos que ajudam nos cálculos. Aqui, fica aquele sentimento de frustração com as poucas ferramentas a que temos acesso. Mas estamos começando a caminhar e isso já significa alguma coisa”, diz Fernandes.
Com o objetivo de diminuir o número de mortes nas tragédias e de prevenir de maneira mais eficiente as possíveis catástrofes, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) lançou no mês passado o Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais. “Nossa proposta é proteger e salvar vidas o mais rapidamente possível. Queremos levar informações precisas para que os órgãos públicos consigam mover as pessoas que devem ser realocadas. Temos que sistematizar todas as bases de informação, padronizar e cruzar os dados de cada local. Então, poderemos alertar as prefeituras e a defesa civil do que vem pela frente”, explica Carlos Nobre, secretário de Políticas e de Programas de Pesquisa do MCT e coordenador do sistema.
Porém a implantação do programa — que vai mapear detalhadamente cerca de 500 áreas de risco em todo o país e outras 300 regiões sujeitas a inundações — deve ocorrer somente daqui a quatro anos. Até lá, muitas áreas continuarão descobertas, à mercê da natureza. “O prazo viável para que o sistema consiga cobrir todo o território é mais longo, mas já temos atividades em curto prazo, com áreas que já estão mapeadas e poderão ser monitoradas até o fim deste ano. No Rio de Janeiro, por exemplo, o trabalho já está sendo feito e vamos poder cruzar os dados das chuvas com as características de cada município”, afirma Nobre.
Para o secretário do MCT, o atraso brasileiro está ligado às condições climáticas favoráveis no país, que não criou uma cultura de preparação para os desastres. “Em muitos países, os sistemas de prevenção são completos. O Japão, onde os terremotos e tsunamis são mais frequentes, tem uma preparação mais desenvolvida, com treinamentos realizados com crianças desde cedo, para lidar com situações de emergência. E até em países menos desenvolvidos, como Venezuela e Peru, as sociedades são mais bem preparadas para esse tipo de crise, com indicação de soluções simples, que devem ser sempre levadas em conta. Podemos aprender com esses modelos já em andamento”, acrescenta Carlos Nobre.
“A natureza fornece muitas pistas para entendermos como seus componentes funcionam. Podemos calcular chances de certas áreas sofrerem inundações a partir de várias marcas que ficam com o tempo. Durante as cheias, por exemplo, a água deixa sinais nas árvores, o que evidencia a dimensão da cheia em períodos anteriores. O desabamento de encostas também pode ser analisado, com a descoberta de sedimentos que foram transportados pelas águas. Dessa forma, é possível combinarmos os trabalhos de botânica, geologia e engenharia para entender como o meio ambiente funciona e, assim, chegar até probabilidades mais concretas e confiáveis”, explica Wilson.
O mapeamento das áreas de risco e a definição de cada curso de água podem ajudar no trabalho das defesas civis na prevenção de tragédias. Municípios com maior tendência de sofrer com as enchentes e deslizes de terras, quando avisados das fortes chuvas, podem se organizar e retirar os moradores que correm risco de morte.
“Os dados de vazão dos rios permitem cálculos precisos sobre até que ponto ele pode chegar, mas é fundamental que o monitoramento seja feito por períodos longos. São 20, 30 anos colhendo estatísticas para alcançar probabilidades cada vez mais exatas. Somando às análises mais convencionais outras fontes de dados, o trabalho fica cada vez mais preciso”, diz o pesquisador.
Por outro lado, o estudo mineiro apontou uma dificuldade maior para a prevenção de problemas com enchentes em áreas urbanas, onde as evidências deixadas pelas inundações e desabamentos não ficam muito tempo sem ser modificadas. “Nas grandes cidades, a ocupação desordenada acaba descaracterizando o uso do solo. É menos viável perceber os sinais da natureza nos locais onde ela foi muito transformada, os cursos dos rios são alterados e até a absorção é diferente”, acrescenta.
Atraso brasileiro
As recorrentes tragédias em território brasileiro que resultam em milhares de vítimas tornam esse tipo de estudo obrigatório para os centros de pesquisas de países que convivem com a questão. Mas, na prática, a realidade é outra, e o Brasil continua atrasado nas tecnologias que lidam com os desastres ambientais. Prova disso é o despreparo para lidar tanto com a prevenção como com a tragédia em si, quando ela ocorre.
“Infelizmente, ainda estamos dando os primeiros passos nesse tipo de estudo. Durante as pesquisas nos Estados Unidos e na Espanha, conseguimos dados expressivos que ajudam nos cálculos. Aqui, fica aquele sentimento de frustração com as poucas ferramentas a que temos acesso. Mas estamos começando a caminhar e isso já significa alguma coisa”, diz Fernandes.
Com o objetivo de diminuir o número de mortes nas tragédias e de prevenir de maneira mais eficiente as possíveis catástrofes, o Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) lançou no mês passado o Sistema Nacional de Alerta e Prevenção de Desastres Naturais. “Nossa proposta é proteger e salvar vidas o mais rapidamente possível. Queremos levar informações precisas para que os órgãos públicos consigam mover as pessoas que devem ser realocadas. Temos que sistematizar todas as bases de informação, padronizar e cruzar os dados de cada local. Então, poderemos alertar as prefeituras e a defesa civil do que vem pela frente”, explica Carlos Nobre, secretário de Políticas e de Programas de Pesquisa do MCT e coordenador do sistema.
Porém a implantação do programa — que vai mapear detalhadamente cerca de 500 áreas de risco em todo o país e outras 300 regiões sujeitas a inundações — deve ocorrer somente daqui a quatro anos. Até lá, muitas áreas continuarão descobertas, à mercê da natureza. “O prazo viável para que o sistema consiga cobrir todo o território é mais longo, mas já temos atividades em curto prazo, com áreas que já estão mapeadas e poderão ser monitoradas até o fim deste ano. No Rio de Janeiro, por exemplo, o trabalho já está sendo feito e vamos poder cruzar os dados das chuvas com as características de cada município”, afirma Nobre.
Para o secretário do MCT, o atraso brasileiro está ligado às condições climáticas favoráveis no país, que não criou uma cultura de preparação para os desastres. “Em muitos países, os sistemas de prevenção são completos. O Japão, onde os terremotos e tsunamis são mais frequentes, tem uma preparação mais desenvolvida, com treinamentos realizados com crianças desde cedo, para lidar com situações de emergência. E até em países menos desenvolvidos, como Venezuela e Peru, as sociedades são mais bem preparadas para esse tipo de crise, com indicação de soluções simples, que devem ser sempre levadas em conta. Podemos aprender com esses modelos já em andamento”, acrescenta Carlos Nobre.
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