quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nuvens têm composição diferente de acordo com nível de poluição

Pesquisas, que contaram com a ajuda de cientistas brasileiros, podem ajudar na modelagem das mudanças climáticas

Nuvens sobre a amazônia: simulação da era pré-industrial

(iG) A formação de nuvens em regiões industriais e não-industriais tem origens completamente diferentes. Essa é descoberta de dois grupos de pesquisadores relatadas na revista Science desta quinta-feira, dia 16 de setembro. Um grupo, liderado por Ulrich Pöschl, do Instituto Max Planck, na Alemanha e que contou com a participação dos brasileiros Paulo Artaxo, da USP, e Theotonio Pauliquevis, da Unifesp, coletou partículas do ar da bacia amazônica no período de chuvas em uma atmosfera que se assemelha à da era pré-industrial -- na qual poluição é apenas uma palavra sem significado.

Eles descobriram que a maior parte das partículas capazes de formar nuvens são de materiais biogênicos – vulgo, produzido pela ação de organismos vivos. Os dados levantados pelo trabalho irão ajudar os cientistas a entender e quantificar a interdependência entre aerossóis (as partículas coletadas) e a água em um local do mundo não perturbado por poluentes. “Este entendimento é um pré-requisito para a modelagem confiável, validação e previsão dos efeitos gerados pelo homem na mudança climática”, explicou Pöschl ao iG.

Conhecer os aerossóis é importante, pois sua composição e abundância influenciam a quantidade de energia absorvida e refletida pela Terra e podem levar a modificações nas características das nuvens – aumentando ou diminuindo a quantidade de chuva de uma região. “Os efeitos diretos e indiretos dos aerossóis no clima estão entre as maiores incertezas no entendimento atual das mudanças climáticas regionais e globais”, afirmam os pesquisadores no artigo.

Com os dados levantados no estudo conseguiu-se ter um caso-controle, um referencial de como a atmosfera se comportava antes da revolução industrial. “As medidas deste experimento no que concerne aos aerossóis atmosféricos, nos provê com um referencial de "atmosfera limpa", afirmou Pauliquevis ao iG.

Em outro estudo os pesquisadores Anthony Clarke e Vladimir Kapustin, da Universidade de Honolulu, no Havaí, coletaram aerossóis de várias regiões do Oceano Pacífico – poluídas e não poluídas - e descobriram que a massa e a quantidade deles é muito maior quando provêm de atividades humanas como queima de combustíveis fósseis (como gasolina, gás, carvão etc) do que de regiões menos poluídas. A conclusão dos pesquisadores no artigo é que os aerossóis provenientes da combustão estão influenciando direta e indiretamente a formação de nuvens, e por conseqüência, o clima. Juntos os trabalhos mostram que as diferenças entre as fontes de formação dos aerosóis – natural e humana – são uma fonte importante de dados para a modelagem das mudanças climáticas.

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