quinta-feira, 20 de maio de 2010

É preciso analisar as cinzas da erupção

Pesquisadores brasileiros defendem que material expelido pelo vulcão islandês seja alvo de estudos a longo prazo

Nuvem de cinzas do vulcão islandês: risco de contaminação ainda não é conhecido

(Revista Fapesp) A comunidade científica e as autoridades públicas devem investigar os possíveis efeitos a longo prazo que as cinzas expelidas pelo vulcão islândês Eyjafjallajoekull podem ter sobre a saúde humana e o meio ambiente. O alerta foi dado por dois pesquisadores brasileiros, o físico Sérgio Mascarenhas, da Universidade de São Paulo (USP) de São Carlos, e Luiz Mattoso, da Embrapa Instrumentação Agropecuária, também de São Carlos, em carta publicada na revista científica Nature da semana passada. "Não se pode assumir que as cinzas vulcânicas não têm nenhum efeito", escreveram os pesquisadores. "Por exemplo, micro e nanopartículas e resíduos poderiam contaminar alimentos, os campos e a água." Estudos recentes feitos por uma equipe da Universidade de Oxford (Inglaterra) encontraram níveis significativos de nanopartículas em cinzas do monte Etna, na Itália, e de outros vulcões.

A consequência mais vísivel da enorme nuvem de cinzas vulcânicas despejadas na atmosfera pelo vulcão, que entrou em erupção no mês passado e até agora não cessou toda sua atividade, é provocar contínuas paralisações no tráfego aéreo de boa parte da Europa. Mas os riscos podem ir muito além disso. Segundo os cientistas, os departamentos de saúde pública das áreas afetadas deveriam recolher amostras das cinzas tanto da atmosfera como de filtros domésticos e de instalados em fábricas e realizar análises com relação à presença de partículas metálicas e de carbono. As cinzas em si podem conter material radioativo, visto que as explosões vulcânicas nascem de depósitos localizados nas profundezas geológicas que podem conter radioisótopos. "É dever das autoridades públicas investigar isso e dar um retorno ao público", escreveram Mascarenhas e Mattoso.

No interior paulista, Mascarenhas está interessado em estudar os possíveis efeitos de outro tipo de fenômeno que também polui a atmosfera. Ele já recolheu cinzas da queimada da cana-de-açúcar em Ribeirão Preto. "Vou usar protocolos biológicos para compará-las com as cinzas vulcânicas", afirma o físico.

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