(JB) As águas dos oceanos estão mais quentes. Mais do que se imagina. Não é só o fenômeno El Niño, que eleva a temperatura da superfície do Oceano Pacífico e provoca chuvas torrenciais na Região Sudeste. Nem só o fato de o Oceano Atlântico ter estado mais quente este ano: nas chuvas que desabaram sobre o Rio em abril, o aumento de 1,5 grau contribuiu para a intensidade das tempestades, causando mais evaporação e trazendo umidade extra ao litoral. Cientistas publicaram esta semana um artigo na revista Science no qual estimam que os oceanos absorvam cerca de 90% da energia solar que fica presa na Terra por causa dos gases do efeito estufa.
Eles descobriram este fenômeno ao perceberem que as atuais ferramentas de medição do aquecimento global não captam nem metade do calor, que especialistas acreditam ter aumentado na Terra nos últimos anos. Sensores de satélite, boias oceânicas e outros instrumentos seriam, segundo eles, inadequados para rastrear esse calor não detectado, que deve estar aumentando nas profundezas dos oceanos.
E embora instrumentos de satélites indiquem que gases de efeito estufa continuem a prender mais energia solar no planeta, cientistas não têm sido capazes de determinar para onde exatamente o calor está indo.
– Ou as observações de satélite estão incorretas, ou, o que é mais provável, grandes quantidades de calor estão penetrando em regiões que não são adequadamente medidas, assim como as partes mais profundas dos oceanos – diz Kevin Trenberth, principal autor do estudo e cientista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica (NCAR), dos EUA.
Segundo os cientistas, algum aumento de calor pode ser detectado entre profundidades de cerca de mil a dois mil, porém mais calor deve estar em locais mais profundos, além do alcance dos sensores de oceanos.
– Este calor vai nos assombrar mais cedo ou mais tarde – diz Trenberth, principal autor do estudo e cientista do NCAR. – É fundamental rastrear a elevação da energia em nosso sistema climático para que possamos entender o que está acontecendo e prever nosso clima futuro.
Trenberth e o co-autor, John Fasullo, se concentraram em um mistério central das mudanças climáticas. Segundo eles, as temperaturas da superfície da Terra têm sido regulares nos últimos anos. Ainda assim, o derretimento de geleiras e do gelo do mar do Ártico, e os níveis do mar cada vez mais elevados indicam que o aquecimento continua a ter profundos efeitos sobre o planeta.
Instrumentos de satélite mostram um desequilíbrio crescente entre a energia do Sol entrando na atmosfera e a energia deixando a superfície da Terra. Esse desequilíbrio é a fonte do aquecimento global de longo prazo. Rastrear a quantidade crescente de calor na Terra é mais complicado do que medir temperaturas na superfície do planeta.
Trenberth e Fasullo querem sensores de oceanos adicionais, junto com análise de dados mais sistemática e novas abordagens para calibrar instrumentos de satélite, para ajudar a resolver o mistério. As boias que os pesquisadores começaram a empregar no ano 2000 para medir temperaturas dos oceanos, por exemplo, estão separadas por cerca de 300 quilômetros, e fazem leituras a cada dez dias de uma profundidade de cerca de dois mil metros até a superfície. Há planos para ter mais boias desse tipo capazes de medir o calor em profundidades maiores.
– Nossa preocupação é que nós não somos capazes de monitorar inteiramente ou entender o desequilíbrio. Isso revela uma lacuna em nossa capacidade de observar o aumento do calor em nosso sistema climático – diz Fasullo.
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