segunda-feira, 8 de março de 2010

Entenda como se formam as ondas gigantes que abalam os navios

Ondas gigantes chegam a alcançar até 18 metros de altura, o equivalente a um prédio de 6 andares

(Terra) A fúria das ondas no oceano anda assustando até mesmo passageiros e tripulantes dos inabaláveis navios de luxo, assim como os do cruzeiro Louis Majesty. Na última quarta-feira, dia 3, duas pessoas morreram e seis ficaram feridas depois de uma onda gigante ter quebrado contra a embarcação que estava próxima ao Cabo Bagur (noroeste da Espanha). Para entender melhor a origem dessas ondas, o Terra conversou com especialistas das áreas de meteorologia e oceanografia.

As ondas gigantes não são medidas apenas pelo seu tamanho individual, para ser consideradas "gigantes" elas têm que ter algumas características simultaneamente. De acordo com Eduardo Siegle, professor de oceanografia da Universidade de São Paulo, essas ondas são esporádicas e devem ser 3 vezes maiores que as que estão no oceano no momento. Elas chegam a alcançar até 18 metros de altura, o equivalente a um prédio de 6 andares.

O fenômeno tem sido objeto de estudo, mas ainda não se conhece muito a respeito. O que se sabe, até agora, é que ele pode surgir em zonas mais costeiras, ou seja, não tão profundas, e se formam geralmente de três maneiras:

1- Interação da onda com o fundo gerando um ponto focal de energia
Isso ocorre em locais de topografia irregular. Sobre áreas mais rasas pode haver concentração de energia de onda em um só ponto e isso gera uma onda de tamanho maior.

2- Interação das ondas com correntes marinhas fortes
Ocorre quando a influência das correntes marinhas sobre as ondas interage com a corrente de vento contrária a direção de propagação das ondas, diminuindo seu comprimento. Ou seja, existe uma combinação de várias ondas (elas se empilham) fazendo com que seu tamanho se multiplique.

3- Interação de diferentes ondas com características similares
Ondas de tipos diferentes e características similares, assim como comprimento e força, consolidam uma somatória de energia que cria uma onda maior.

No Brasil
Segundo especialistas, não é impossível o aparecimento de uma onda gigante no Brasil, porém, é pouco provável, pois nossas ondas são geralmente pequenas. "Ondas gigantes na costa brasileira são um pouco improváveis, pois aqui os climas de ondas não são tão energéticos", disse o Professor de Oceanografia da Universidade do Estado de São Paulo, Eduardo Siegle. O oceanógrafo afirma que não temos registros de ondas gigantes em território nacional. "O Rio Grande do Sul já registrou ondas maiores, de dar banho na praia e levar cadeiras, mas não chega a ser uma onda gigante", disse.

Geralmente esse fenômeno se concentra em locais que apresentam ventos e correntes fortes, como no sul da África, por exemplo, próximo ao Cabo das Agulhas. "No mar mediterrâneo isso poderia acontecer pela topografia do fundo, pro exemplo", disse Eduardo Siegle.

Ricardo de Camargo, professor de meteorologia da Universidade De São Paulo, afirma que em locais como o mar mediterrâneo, que é semifechado, pequeno, as ondas gigantes geradas por ventos e tempestades são menos freqüentes. Mesmo assim o mar atinge uma profundidade grande, suficiente para que as tempestades compliquem um desvio de rota.

Risco em alto-mar
As ondas podem atingir embarcações de grande porte nos canais de acesso aos portos, nos desembarques, por exemplo, ou em alto-mar. De acordo com Ricardo de Camargo, o primeiro caso gera mais perda material, e o segundo, traz mais perdas humanas.

Nos canais de acesso, as correntes de vento podem formar grandes ondas, que por sua vez podem comprometer o navio ocasionando pancadas. Porém a situação que pode vitimar o maior número de pessoas ocorre em rota ou alto-mar. "Em tal circunstancia as tempestades têm um efeito intenso. Geralmente as pessoas mais prejudicadas são as que estão fora do convés, que acabam sendo jogadas para fora. Outras podem se machucar na lateral do navio, mas o risco de alguém que está do lado de fora cair no mar desfalecido é muito grande. Quando a pessoa cai na água, mesmo que ela não morra é muito difícil que a embarcação consiga recuperá-la", explicou.

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