quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Gases de vulcões na Sibéria extinguiu espécies há 250 milhões de anos
(Correio Braziliense) Há cerca de 250 milhões de anos, atividades vulcânicas na região onde hoje fica a Sibéria — que ocupa parte do território da Rússia e o norte do Cazaquistão — praticamente acabaram com a vida sobre a Terra. Mas ao contrário do que se imaginava, a extinção de 96% das espécies existentes nesse período não teria acontecido durante as erupções dos vulcões, mas imediatamente antes. Um estudo que apresenta o modelo de formação da planície vulcânica siberiana, publicado na edição mais recente da revista científica Nature, indica que a liberação massiva de cinzas e fumaça repletas de CO2 (dióxido de carbono) e HCl (cloreto de hidrogênio) seria a principal responsável pela morte de seres vivos no Período Permiano-Triássico. Foram necessários mais de 5 milhões de anos para que novas espécies reaparecessem no mundo após a catástrofe.
No estudo, uma equipe internacional formada por profissionais do Centro Germânico de Pesquisas para Geociência da Universidade J. Fourier de Grenoble (França), da Universidade de Leeds (Reino Unido) e da Academia Russa de Ciências obteve dados da estrutura e origem das rochas da planície vulcânica da Sibéria. Essas informações revelaram que parte do solo no local era formada por crosta oceânica reciclada, camada formada por rochas de basalto que constituem a lava dos vulcões. Essa crosta, de acordo com os pesquisadores, foi encontrada imediatamente acima de uma camada de cinzas, o material expelido antes das várias erupções vulcânicas. As cinzas com CO2 e HCl, gases que se tornam tóxicos em grandes quantidades, teriam causado efeito estufa e erosão na superfície terrestre, destruindo nutrientes do solo vitais para os seres que existiam então.
Paul Wignall, professor de paleontologia da Universidade de Leeds e um dos autores do estudo, afirma ao Correio que a extinção dos seres vivos sobre a Terra, não apenas no Permiano, mas em outras épocas que também registraram extinções em massa, teriam ocorrido imediatamente antes de erupções vulcânicas. “O CO2 e o HCl causaram chuva ácida, o inverno vulcânico seguido de aquecimento global e a estagnação dos oceanos, que se tornaram ácidos demais para os seres marinhos. Todos esses fatores praticamente acabaram com a vida no planeta”, explica.
Wignall destaca que saber que a emissão de cinzas e fumaça do vulcão foi o que dizimou as espécies, e não a lava, faz com que se perca parte da explicação de por que as atividades vulcânicas na província ígnea da Sibéria foram tão mais danosas ao ecossistema do que em outros casos de extinção. Para o paleontólogo, isso pode ter ocorrido pela reação lenta do oceano à acidificação das águas, uma vez que o aquecimento do globo derreteu blocos de gelo, dentro do mar, que continham gás metano. “Agora, queremos testar esse mesmo modelo na análise de outras grandes erupções vulcânicas.”
O professor de geocronologia da Universidade de Brasília (UnB) Massimo Matteini ressalta que, até hoje, há outras hipóteses sobre a destruição dos seres vivos na Sibéria. Embora trabalhe-se basicamente com as evidências da série de atividades vulcânicas na região, existem pesquisas que tratam sobre a possibilidade de ter ocorrido o impacto de um meteoro no planeta, como o que ocorreu no Período Cretáceo (há 65 milhões de anos) e causou a morte dos dinossauros.
Falta de oxigênio
Uma pesquisa da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, divulgada em maio, mostrou que o repovoamento da Terra demorou cerca de 5 milhões de anos para ocorrer após a catástrofe porque algas e bactérias presentes no oceano consumiram todo o oxigênio que restou no local. O domínio desses dois tipos de seres vivos impediu o ressurgimentos de outras formas de vida, inclusive dos répteis, que, um dia, dariam origem aos mamíferos.
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