quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Água mais antiga do mundo tem entre 1 bilhão e 2,5 bilhões de anos

Pesquisadores canadenses estudaram a quantidade de hidrogênio produzido através das reações químicas nas profundezas da Terra, uma química que pode sustentar vida na subsuperfície


(O Globo) Não estamos sós. A milhares de quilômetros de profundidade, onde há mais água do que em toda a superfície do planeta, pequenas formas de vida podem estar se multiplicando. Estes organismos remontam a até 2,5 bilhões de anos e poderiam contar novos detalhes sobre a origem da Terra.

Os seres desconhecidos viveriam em uma área superior à soma de todos os oceanos, lagos, pântanos e rios do mundo. Sua origem seria fruto de uma reação química da água com a crosta continental. O resultado seria a liberação de hidrogênio, uma potencial fonte de alimento.

Professora de Microbiologia da Universidade de Toronto, no Canadá, Barbara Sherwood Lollar pesquisou reações químicas subterrâneas dentro de 19 minas — uma delas, no país, de 2,4 quilômetros de profundidade. Com base em seu levantamento, ela acredita que grandes áreas da crosta profunda estariam abrigando vida. Até hoje, poucos estudos abordam esta possibilidade.

— Esta é uma grande quantidade de rochas que, muitas vezes, ignoramos em dois aspectos: na sua possibilidade de contar acontecimentos do passado e as reações químicas ali presentes, que poderiam mostrar eventuais condições de vida — explica Barbara, autora chefe do estudo, publicado na revista científica “Nature”.

Cláudio Gonçalves Tiago, pesquisador do Centro de Biologia Marinha da USP, corrobora a tese da cientista canadense.

— A produção de hidrogênio na crosta continental sempre foi negligenciada pela ciência. Este trabalho pode ser uma prova de que a substância também está ali e, assim, permitiria a existência de alguma formação de vida nesta região profunda — avalia. — Seriam formas muito antigas, de até 2,5 bilhões de anos. Levando em conta que o planeta tem 6 bilhões de anos, eles nos dariam uma documentação inédita sobre nossa origem.

O pesquisador cogita que a crosta seria lar de formas de vida ainda mais primitivas do que organismos.

— Um dos princípios da biologia cósmica é de que a Terra seria o resultado de uma chuva de moléculas orgânicas que vieram do espaço. Pode ser que encontremos estas moléculas sob o oceano.

‘GIGANTE ADORMECIDO’
A cientista define as rochas profundas como um “gigante adormecido”, um depósito onde é possível encontrar dados sobre históricos da atmosfera terrestre. Perfurações cada vez maiores mostram que a água é tão antiga como a própria crosta.

— A maioria dos estudos sobre a vida na superfície concentra-se em sistemas de oceano marinhos, como sedimentos ou fontes hidrotermais. Os processos de alta temperatura entre água e rocha que já conhecemos produz energia para vida microbiana — afirma. — Até agora, no entanto, as pessoas não perceberam que reações semelhantes podem ocorrer na crosta continental. É por isso que tentamos acordar o gigante. Queremos mudar a compreensão de como a superfície da Terra pode ser habitável, e há muitos locais que ainda podem ser explorados e poderiam indicar formas de vida.

Em entrevista à rede BBC, Chris Ballentine, coautor da pesquisa de Toronto, afirmou que a idade da água é apenas uma das surpresas reveladas pela perfuração:

— É impressionante como a água está preservada e mantida por tanto tempo. E pensar que, por baixo de nossos pés, há muito mais do que apenas rochas. Até agora, ninguém considera que hidrogênio poderia ser produzido na crosta continental. Mostramos como isso está errado, e que ele está presente tanto ali como no resto do planeta.

Barbara e Ballentine, porém, admitem que ainda está cedo para saber se a região estudada seria habitável.

— Queremos agora seguir o “mapa do tesouro”, ir a estes sítios e definir qual é a extensão dessas hidrosfera, ver a extensão de cada era histórica, e tentar entender as diferenças entre os tipos de vista que poderemos encontrar em cada fratura da crosta — enumera a pesquisadora. — E é ainda mais excitante que, se entendermos o limite da vida, entenderemos também o que não vemos na superfície.

Outro estudo, apresentado esta semana pelo Programa Internacional de Descobrimento do Oceano, encontrou micro-organismos que vivem a 2,4 mil metros abaixo do nível do mar, próximo à costa japonesa. Os organismos unicelulares sobrevivem neste ambiente com base em uma dieta de baixa caloria de compostos de hidrocarbonetos. Outro mecanismo fundamental para sua vida seria o metabolismo lento, de acordo com a pesquisadora Elizabeth Trembath-Reichert, do Instituto de Tecnologia da Califórnia.

Como os organismos expelem metano, um gás de efeito estufa, ele poderia ter um grande impacto sobre o clima terrestre. Os pesquisadores também avaliam que, se eles são capazes de sobreviver em condições tão extremas na Terra, poderiam adaptar-se a outros planetas.

A história geológica do planeta também já passou por Juína, no interior do Mato Grosso. Um estudo publicado na “Science” por pesquisadores britânicos, americanos e brasileiros mostrou a existência na região de diamantes a até 600 quilômetros abaixo do solo, no manto interior da Terra. Nenhum outro lugar do planeta tem um grupo de minerais tão significativo. Os diamantes são a matéria-prima ideal para pesquisas de geologia, devido à sua longa durabilidade.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Campo magnético interplanetário e auroras


(UOL) Auroras são as manifestações solares mais visiveis na Terra, mas muitos aspectos desses fenômenos ainda são pouco conhecidos. Graças aos satélites Cluster, na ESA, e Image, da Nasa, que trabalham juntos, um tipo particular de aurora que acontece em uma latitude superior está sendo explicado: o theta aurora, que acontece quando O campo magnético interplanetário ? gerado pela corrente de plama gerada pelo sol, conhecida como vento solar ? aponta para o norte ao atingir a Terra.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

A Terra poderá ser atingida por explosão estelar?

A morte explosiva de Eta Carinae provavelmente não afetará nosso planeta


(Scientific American Brasil) Quando pensamos sobre ameaças “existenciais”, eventos com o potencial de destruir a vida de todos os seres da Terra, a maioria das possibilidades está em nosso próprio planeta – mudanças climáticas, pandemias globais e guerra atômica. Lançando um olhar paranoico para os céus, normalmente pensamos em impactos de asteroides ou talvez algum disparo perigosamente massivo de nosso Sol.

Mas se você acreditar em tudo que lê nas fronteiras da Internet, pode achar que a ameaça celestial mais aterrorizante não é apenas extraterrestre, mas também extrassolar. A cerca de 7.500 anos-luz de distância, na constelação de Carina, uma estrela chamada de Eta Carinae, pelo menos cem vezes mais massiva que nosso Sol, está se aproximando do ponto em que explodirá como supernova. De maneira simples, a Eta Carinae é um supermassivo barril de pólvora estelar com o pavio quase no fim. De fato, ela já pode ter chegado ao fim, e a luz que carrega as notícias de sua morte cataclísmica poderia estar vindo em nossa direção agora mesmo. Existem dois conjuntos gerais de opiniões sobre o que aconteceria após a chegada desse funeral luminoso, seja amanhã ou daqui a dezenas de milhares de anos.

A primeira opinião, defendida por vários alarmistas online (que não vou citar) sustenta que haveria uma extinção global em massa. Essa ideia se baseia em temores de que a supernova de Eta Carinae possa liberar enorme quantidade de raios gama (ERG), uma das explosões mais potentes do Universo. Quando uma estrela muito massiva morre em uma supernova, seu núcleo colapsa sobre si mesmo, normalmente formando um resquício estelar, uma estrela de nêutrons ou um buraco negro.

Se o núcleo estiver girando em alta velocidade, o resquício estelar girará ainda mais rápido, acumulando um disco de material ao seu redor girando quase à velocidade da luz. Por meio de processos que ainda não compreendemos completamente, esse disco giratório super-aquecido e magnetizado forma um par de jatos, como feixes de um farol marítimo, que são lançados de seus polos a velocidades relativísticas. A emissão altamente concentrada, extremamente energética desses jatos é o que vemos como uma ERG.

Com o passar dos anos, ERGs foram propostas como uma das razões para nossa aparente solidão no Universo – mais cedo ou mais tarde, afirma a teoria, todos os planetas habitados serão atingidos por uma ERG, o que praticamente aniquilaria qualquer biosfera.

Alguns pesquisadores especulam que uma dessas explosões pode já ter atingido a Terra, no final do período Ordoviciano há quase 450 milhões de anos. Seja qual for esse evento do passado, estima-se que ele tenha conseguido exterminar mais de 80% de todas as espécies vivas daquela época. Pode ser que muito mais ERGs tenham atingido nosso planeta no início de sua vida, limitando o surgimento da biosfera terrestre até que sua prevalência cósmica tenha caído abaixo de um limiar crítico.

De acordo com uma plausível hipótese de acontecer o pior, um impacto direto provocado por uma ERG extremamente potente gerada por Eta Carinae poderia devastar nosso planeta de uma maneira semelhante a uma guerra termonuclear total, mas muito pior.

Durante vários segundos calcinantes, o hemisfério planetário mais distante da estrela seria banhado em intensa radiação de alta frequência. Os céus ficariam cheios de uma luz muito mais brilhante que a do Sol, brilhante o suficiente para iniciar enormes incêndios em metade do globo. Essa energética explosão de luz iniciaria chuvas atmosféricas de partículas subatômicas radioativas altamente penetrantes chamadas de múons, que desceriam dos céus para envenenar a vida na superfície e em partes do subterrâneo e dos oceanos.

Nem mesmo o lado mais distante do planeta em relação a Eta Carinae seria poupado, já que a intensa energia da ERG destruiria toda a camada de ozônio enquanto enviaria super tempestades destruidoras pelo planeta. Depois disso, céus negros, cheios de fuligem, lançariam torrentes de chuva ácida, que limpariam tudo apenas para banhar a superfície com a perigosa radiação ultravioleta. Literalmente em um segundo, a Terra se transformaria em um necrotério, e a biosfera estilhaçada precisaria de milhões de anos para se recuperar.

A segunda opinião, sustentada pela maioria dos astrofísicos, é que Eta Carinae sequer produzirá uma ERG – e, se o fizer, ela não atingirá a Terra. E mesmo em um cenário onde nosso planeta realmente se encontre na mira de uma ERG oriunda de Eta Carinae, se a explosão tivesse intensidade média, sua luz estaria muito atenuada depois de cruzar 7.500 anos-luz para prejudicar seriamente a biosfera. Nesse cenário, o fim de Eta Carinae se manifestaria com relativa modéstia: o brilho da estrela se aproximaria da luminosidade da lua cheia antes de desaparecer gradualmente no céu.

Para compreender como essa profunda divergência de opiniões precisamos saber mais sobre Eta Carinae. Desde que foi catalogada por Edmond Halley, em 1677, o brilho da estrela já apresentou enormes flutuações, atingindo seu pico em 1843 para se tornar a segunda estrela mais brilhante no céu durante quase duas décadas.

Atualmente, astrônomos consideram esse evento como sendo um “impostor de supernova” – em vez de explodir, a estrela talvez tenha ejetado 10% de sua massa total na forma de duas imensas nuvens de gás e poeira, que atualmente são conhecidas como Nebulosa do Homúnculo. Resquícios brilhantes de eventos ainda mais antigos de quase-morte ainda cercam a estrela. Se vista hoje através de um grande telescópio, Eta Carinae fica um pouco parecida com um amendoim sendo assado no fogo.

Eta Carinae brilha com tanta intensidade que está erodindo a si mesma, gerando uma pressão radioativa extena tão intensa que quase neutraliza a atração gravitacional o que permite o lento desprendimento de suas camadas mais externas em poderosos ventos estelares. Nas profundezas da estrela, abaixo de uma espessa camada de hidrogênio, reações de fusão estão “queimando” vários combustíveis nucleares em camadas semelhantes àquelas encontradas no interior de uma cebola. As explosões e pulsações anteriores de Eta Carinae provavelmente estão ligadas a instabilidades entre suas camadas interiores, criadas quando ela esgotou um combustível nuclear e começou a queimar outro.

Alex Filippenko, astrofísico da University of California, Berkeley, explica que a massiva cobertura de hidrogênio e os fortes ventos estelares de Eta Carinae reduzem a probabilidade de a estrela produzir uma ERG. “Uma espessa camada de hidrogênio torna difícil que um jato relativístico escape da estrela”, explica Filippenko. “Mas se a Eta Carinae não explodir dentro de um longo tempo, ela teria chance de se livrar da camada externa, e provavelmente se transformaria em uma ERG”. Mas ele também adiciona que, uma vez que a camada tenha desaparecido, a força dos ventos estelares provavelmente aumentaria, dissipando grande parte do momento angular que seria necessário para produzir uma ERG quando o núcleo de Eta Carinae colapsasse. “Tudo isso torna uma ERG menos provável, mas não impossível”, observa Filippenko. “E mesmo que ela consiga se livrar de sua camada de hidrogênio antes de explodir e não se transforme em uma ERG, Eta Carinae provavelmente não está apontando para cá no momento”.

Os lóbulos gêmeos da Nebulosa do Homúnculo estão afastados de nós em um ângulo de aproximadamente 40 graus, e Filippenko explica que uma ERG emergindo do eixo polar de uma estrela em colapso teria uma dispersão de apenas 10 graus ou menos. Assim, se a Nebulosa do Homúnculo estiver alinhada com o eixo polar de Eta Carinae, uma ERG vinda de lá se desviaria de nosso sistema solar por uma grande margem.

Infelizmente, existe um grande complicador nisso tudo: em 2005, astrônomos descobriram que Eta Carinae é um sistema binário. Sua companheira é relativamente pequena, com “apenas” 30 vezes a massa de nosso Sol, e fica em uma órbita de aproximadamente cinco anos ao redor da estrela que tem 100 massas solares.

Se a órbita da pequena companheira não estiver alinhada com o eixo rotacional da estrela mais massiva, então a Nebulosa do Homúnculo pode não estar alinhada com os polos da estrela massiva. E é possível que as interações gravitacionais entre as duas estrelas, ou com outra estrela que estivesse de passagem, pudessem alterar a orientação do eixo da estrela mais massiva, sendo capazes de virá-la em nossa direção. Finalmente, a presença da estrela companheira também poderia alterar a evolução da estrela mais massiva, lançando mais incerteza no tempo e na mecânica de qualquer possível supernova.

Quando somadas, todas essas variáveis são, em grande parte, o motivo de Eta Carinae ser um problema mais intrigante atualmente segundo Stan Woosley, astrofísico da University of California, Santa Cruz, que se especializa em modelar a evolução e morte de estrelas. “Ninguém sabe o que está acontecendo lá fora... Ela poderia morrer amanhã ou daqui a muito tempo”.

Parte do que acontecerá a seguir depende do atual combustível nuclear dominante no interior de Eta Carinae. Se ela estiver fundindo elementos como oxigênio ou carbono dentro, ou nas proximidades, de seu núcleo, ela pode ter apenas alguns anos de vida, no máximo séculos, e poderia ejetar sua cobertura externa de hidrogênio em breve. Se, em vez disso, seu núcleo estiver fundindo hélio, a estrela ainda poderia brilhar durante centenas de milhares de anos. Por outro lado, a fusão de hélio poderia fazer com que Eta Carinae inchasse como um balão e se tornasse uma estrela supergigante. Nesse caso, sua companheira estelar poderia ser engolida e destruir sua camada externa de hidrogênio, acelerando a morte explosiva da supergigante.

Depois que a estrela morrer, explica Woosley, seu núcleo provavelmente colapsará para formar um buraco negro, ainda que com uma rotação muito lenta para formar um disco relativístico e uma ERG. Sem a criação desse disco, a morte da Eta Carinae poderia ser “bem pouco espetacular”, fracassando até mesmo em produzir uma supernova, já que os resquícios da estrela simplesmente escapariam para trás do horizonte de eventos do buraco negro.

“Às vezes eu me pergunto se Eta Carinae já se foi”, conclui Woosley. “Mas as pessoas me dizem que ainda conseguem vê-la”.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Luzes da cidade vistas da ISS


(UOL) A astronauta da ESA (Agência Espacial Europeia, sigla em inglês) Samantha Cristoforetti, uma das tripulantes da ISS (Estação Espacial Internacional, sigla em inglês), tirou essa foto da Terra, mas esqueceu qual é o lugar da imagem e pediu ajuda para seus seguidores em uma rede social. "Esqueci onde eu tirei essa foto. Lindas linhas de luz muito distintas - parece familiar para alguém?". Ajudar astronautas a identificarem os locais das imagens pode ser divertido, mas o ato de fotografar a Terra vai além disso, ajuda os profissionais que investigam poluição luminosa.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Desmatamento provoca ‘tsunami atmosférico’ e caos no clima em outros continentes

Além das emissões de carbono, derrubada de florestas está ligada à mudança no regime de ventos e chuvas


(Terra) Um estudo publicado hoje na revista “Nature Climate Change” mostra como o desmatamento tem um efeito muito maior sobre as mudanças climáticas do que o previsto até agora. Segundo pesquisadores da Universidade de Virgínia (EUA), alterações físicas — como o corte de árvores, para dar lugar à agricultura — modificam a distribuição do calor na atmosfera e os padrões de chuva em todo o planeta. A devastação pode levar a um aumento da temperatura global de 0,7 grau Celsius — além do impacto causado por gases de efeito estufa — e causar danos severos a atividades econômicas no campo, especialmente na zona tropical.

A devastação das florestas corresponde a, no máximo, 15% das emissões de gases-estufa, um percentual muito menor do que o relacionado a combustíveis fósseis. Por isso, não receberia a devida atenção durante as negociações climáticas.

Professora de Ciências Ambientais de Virgínia, Deborah Lawrence destaca que os efeitos da devastação de áreas verdes podem ser sentidos a milhares de quilômetros de distância.

O fenômeno ocorre devido a “teleconexões”. O desmatamento provoca o aumento da temperatura no ponto em que a floresta foi destruída. Grandes massas de ar surgem e sobem até a atmosfera superior. Lá elas provocam ondas — as “teleconexões” — que fluem para diversas direções, como se fossem um “tsunami atmosférico”. Os eventos climáticos podem ser mais devastadores do que os provocados normalmente pelo carbono.

O desmatamento da Amazônia, por exemplo, reduziria o regime de chuvas durante o período de colheita no Centro-Oeste dos EUA. A destruição de florestas no Centro da África diminuiria as precipitações na Europa Ocidental.

— Imagine o fogão de sua cozinha como os trópicos. O vapor sobe para fora de uma panela de água fervente, chega ao teto da sua cozinha e flui dali em direção ao corredor. Pense no corredor como a Europa ou a América do Norte — compara Deborah. — De forma semelhante, o ar quente sobe nos trópicos e essas massas de ar não sobem para sempre. Eventualmente, elas se chocam com algo como um teto, e mudam para o norte ou para o sul. Mudanças na atmosfera tropical podem fluir para a atmosfera de regiões temperadas, como a Europa, América do Norte, e do norte da Ásia, bem como a África do Sul e partes da América do Sul. Quando isso acontece, o clima é alterado.

Geólogo aponta as falácias e verdades sobre a relação do aquecimento global com as cidades

Veja, na íntegra, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos


(Infraestrutura Urbana) Esse final de ano de 2014 sepulta definitivamente as honestas e também as não muito honestas dúvidas que ainda subsistiam sobre a veracidade e consistência científica das teses e informações apontadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), organismo vinculado à Organização Meteorológica Mundial e ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). É fato, observa-se nas últimas décadas uma comprovada persistência de aumento das temperaturas globais e é certo que a atividade humana no planeta inclui-se entre suas principais causas. As consequências para a Humanidade desse fenômeno climático podem vir a ser catastróficas.

Bem, até esse ponto o problema está colocado, agora vamos aos fatos a ele associados.

Nenhum de nossos conhecidos problemas ambientais (ou de alguma forma relacionados a questões ambientais) graves e crônicos, como poluição atmosférica, poluição de águas superficiais e subterrâneas, contaminação de solos, enchentes urbanas, áreas de risco em encostas e margens de cursos d'água, perda e empobrecimento agronômico de solos agricultáveis, depauperação de corpos florestais ativos, crises hídricas, binômio erosão/assoreamento, degradação de mananciais de boa água, depleção do lençol freático, penúrias de mobilidade urbana, etc., tem no aquecimento global qualquer origem causal.

Foram e são problemas de enorme gravidade, capazes de, per si, sufocar econômica, social e ambientalmente o desenvolvimento brasileiro e a qualidade de vida de sua população, e que foram inteiramente gerados por nós mesmos, por nossa estupidez e irresponsabilidade, sem nenhuma participação de fatores outros como o efeito estufa e outros fenômenos de ordem planetária. Pelo contrário, alguns desses problemas, como os diversos tipos de poluição, a eliminação de corpos florestais e outros, integram o conjunto de ações humanas que colaboram efetivamente para o aquecimento global.

Perde o encanto e a decência, portanto, a atual cantilena de nossos administradores públicos que, espertamente, lançam agora às costas das mudanças climáticas globais a responsabilidade sobre esses terríveis problemas brasileiros, que nunca foram, por irresponsabilidade, por incompetência e por falta de respeito ao cidadão, devidamente enfrentados, evitados ou mitigados pelas mais variadas instâncias do poder público.

Sobre esse trágico rol de problemas crônicos, sim, o aquecimento global aparece como um fator dramaticamente agravante.

Alertemo-nos, no entanto, para que o aquecimento global não venha a ser levianamente utilizado como o bode que é introduzido na sala de visitas de uma casa já cheia de problemas gravíssimos e com cuja eventual retirada pretenda-se aplacar os anteriores insistentes reclamos de seus moradores.

Mais do que nunca coloca-se na ordem do dia de nossos governantes, como obrigação moral, a decisão radical, honesta e inequívoca de enfrentamento desses nossos problemas crônicos, hoje com a perspicácia necessária para que este enfrentamento sempre que possível se apóie em opções tecnológicas que concomitantemente tenham o dom de contribuir para o arrefecimento da parcela do aquecimento planetário induzida pela atividade humana.
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E mais:
Cientista desmente mitos do aquecimento global (R7)

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Degelo e pouca neve no Ártico deixam cientistas alarmados

Grupo de pesquisadores lançou relatório sobre situação na região. Ártico esquenta numa taxa duas vezes maior do que em baixas altitudes.


(France Presse/G1) Temperaturas recordes no Alasca, cobertura de neve abaixo da média no Ártico e degelo excessivo no verão da Groenlândia foram observados este ano por cientistas, despertando novas preocupações sobre o aquecimento global.

O Arctic Report Card, desenvolvido por 63 cientistas em 13 países e atualizado a cada ano desde 2006, foi divulgado nesta semana na reunião da União Geofísica Americana, em São Francisco (Califórnia, EUA).

O relatório constatou que o Ártico continua esquentando numa taxa duas vezes maior do que em baixas altitudes, indicando a permanência de uma tendência conhecida como Arctic Amplification.

"Não podemos esperar recordes todos os anos. As constantes mudanças na região não precisam ser espetaculares", disse o autor principal Martin Jeffries, consultor científico do Ártico e oficial do programa pelo Arctic and Global Prediction no escritório de Pesquisa Naval no Condado de Arlington, na Virgínia, Estados Unidos.

A temperatura do ar continua esquentando em comparação à média dos últimos 30 anos, o que é importante porque essas temperaturas agem como indicadores e responsáveis pelas mudanças regionais e globais, alterando os habitats de ursos polares que lutam pela sobrevivência com o gradativo desaparecimento de oceanos congelados.

"A mudança climática está causando um efeito desproporcional no Ártico. Nos últimos 30 anos, a região vem se tornando mais verde, quente e acessível a embarcações, extração energética e pesca", disse Craig McLean, administrador assistente no National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA, na sigla em inglês).

"Essas transformações, causadas pelas emissões de gases do efeito estufa, estão trazendo enormes desafios", prosseguiu.

Variáveis naturais
Houve algumas melhoras significativas, inclusive um ligeiro espessamento do gelo no Ártico e o registro de apenas a sexta menor quantidade de mares congelados desde as observações de satélite iniciadas em 1979.

No entanto, cientistas informaram que estudos em curso verificaram que as diferenças regionais das temperaturas do ar ao longo do tempo ocorrem muitas vezes "devido a variáveis aleatórias naturais".

O relatório abrange um período entre outubro de 2013 e setembro de 2014. Nesse intervalo de tempo, houve temperaturas extremas de frio no leste da América do Norte e região central da Rússia, juntamente com o ar excepcionalmente quente no Alasca e norte da Europa. "O Alasca registrou anomalias em sua temperatura, que foi 10º C mais alta do que a média de janeiro", afirma.

A cobertura de neve no Ártico durante a primavera foi abaixo das médias entre 1981 e 2010, e novos mínimos históricos foram observados em abril na Eurásia.

Já na América do Norte, a cobertura em junho foi a terceira mais baixa registrada, quando "a neve desapareceu três ou quatro semanas antes que o normal na Rússia Ocidental, Escandinávia, sub-ártico canadense e Alasca Ocidental devido a um acúmulo abaixo da média e acima das temperaturas normais da primavera".

Apesar de um sutil aumento na espessura do gelo no Ártico em comparação com 2013, ainda "há uma quantidade muito menor do gelo mais antigo, mais espesso (com mais de 4 metros) e mais resiliente do que 1988".

Naquela época, o gelo mais antigo compunha até 26% do bloco de gelo; agora, compõe apenas 10%. As temperaturas da superfície do mar em todo o Ártico aumentaram especialmente no Mar de Chukchi, a noroeste do Alasca, onde as temperaturas estão aumentando a um ritmo de 0,5°C por década.

Na maior parte do verão, o derretimento da camada de gelo ao longo da Groenlândia foi acima da média, embora sua massa total tenha permanecido inalterada entre 2013 e 2014. Conforme o gelo derrete, a sua capacidade de refletir a luz solar enfraquece, o que leva a uma perda ainda maior de gelo.

O gelo na Groenlândia neste verão foi o segundo mais escuro desde o ano 2000 e agosto estabeleceu uma nova baixa de reflexibilidade.
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Matéria similar no O Globo
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E mais:
Temperaturas e degelo aumentam no Ártico à medida que planeta esquenta (Terra), com matéria similar no UOL